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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cinema no Piauí: bases, origem e transformações


Cinema no Piauí: bases, origem e transformações


(07/06/2010, às 07:59:12)
A arte, de um modo geral, sempre encontra formas e maneiras de se manifestar em qualquer canto que seja. A sedução pela arte é inerentemente humana e ultrapassa fronteiras geográficas, tecnológicas e intelectuais. Sendo a arte a própria expressão do íntimo humano, ela não deve se limitar a regras e normas, embora na maioria das vezes tenha bases muito bem definidas que terminam cristalizando dogmas. Foi Riccoto Canudo, no seu Manifesto das Sete Artes, quem dogmatizou o Cinema como sendo a Sétima Arte, dentro da qual dialogariam todas as outras, desde o Teatro à Música.

Infelizmente, não é possível eleger um teórico que clarifique e sistematize a produção audiovisual piauiense, sobretudo pelo fato de que há controvérsias se se pode ou não falar de um cinema piauiense. Obviamente que as origens disso remetem à própria questão da autoestima baixa do nordestino, acentuada em nosso Estado. A cultura daqui é um mix das outras que nos cerceiam, o que impede uma formação mais contundente de uma identidade cultural forte. Se não temos sotaque, não devemos ter cultura.

Tal pensamento autossabotador é escutado em qualquer palco vazio ao nosso lado. Um exemplo disso é quando a unanimidade relaciona os primeiros passos do “cinema piauiense” a produções amadoras no final da década de 60 e 70. No entanto, é importante lembrar que o Estado conheceu o cinema desde seu início, praticamente. As primeiras exibições experimentais de filmes na capital e interior datam de 1901, trazidas por empresários estrangeiros. Logo no alvorecer da nova arte fomos apresentados a ela. Nas décadas seguintes, as sessões de cinema se configuraram como a principal diversão do piauiense, ocasionando o boom dos cinemas de rua, como Cine Royal, Cine São Luis, entre outros. Temos, ou tínhamos, o segundo cinema de rua mais antigo do país. O Cine Rex foi inaugurado em 26 de novembro de 1939 com a exibição do filme A Grande Valsa e formou as mais diversas plateias nas mais diferentes épocas e acompanhou grande parte das transformações pelas quais a produção cinematográfica passou, incluindo a sua própria.

Foi perto dali que um grupo de jovens se reuniu para produzir um jornal com o objetivo de levar cultura à população. Paulo José Cunha, Edwar Oliveira, Arnaldo Albuquerque, Carlos Galvão e Durvalino Couto Filho sentaram-se nas gramas da Praça da Liberdade com o objetivo de fazer um movimento trazendo a cultura para mais perto da população. Por conta disso, o jornal foi chamado de “Gramma”, e graças a uma entrevista dada por Torquato Neto nasceu o primeiro curta-metragem piauiense, Adão e Eva no Paraíso de Consumo (ou Do Paraíso ao Consumo), protagonizado pelo próprio e por Claudete Dias. A ele, seguir-se-iam muitos outros.

A produção audiovisual piauiense sempre pertenceu, como podemos ver em sua pequena trajetória, ao coro dos descontentes. Sempre foi intimamente ligada aos movimentos cineclubistas, nos quais se viam clássicos, discutiam-se tendências e experimentavam-se pequenas e ousadas gravações. Muito arraigado a questões sociais e politicamente reacionárias (frutos da Ditadura Militar), não inovou em estética ou linguagem. Bebeu na fonte da Nouvelle Vague da França, do Neo-realismo da Itália e do Cinema Novo brasileiro para, dessa mistura, registrar o clima sociocultural de uma época. Assim tivemos o movimento setentista em super-8, no qual Torquato Neto foi grande expoente, defendendo a precária tecnologia: “Cinema é um projetor funcionando, projetando imagens em movimento sobre uma superfície qualquer. É muito chato. O quente é filmar”.

E na quente Teresina da primeira metade da década de 70 saíram filmes como David a Guiar (também conhecido como As Feras), de Durvalino Couto Filho, Porenquanto, de Carlos Galvão, Terror na Vermelha, de Torquato Neto, entre outros, além das animações de Arnaldo Albuquerque e do longa-metragem Guru das Sete Cidades, que recebeu apoio estatal e foi satirizado por Noronha Filho com o seu Guru das Sexys Cidades, que vem acentuar o caráter marginal à produção desenvolvida no Piauí até então. Em geral, eram filmes de curta duração sem som direto que contavam uma história ou mesmo fragmentos de um específico cotidiano com uma trilha sonora da época (David a Guiar transcorre todo ao som de “Dark Side of the Moon”, álbum do Pink Floyd de 73).

Depois da morte de Torquato Neto, a produção piauiense efervescente ficou tímida. No final da década de 70, outros cinco jovens que participavam do Cineclube Teresinense resolveram colocar em prática seus estudos na área de cinema. Criaram, para tal, o grupo “Mel de Abelha”, que realizou sete curtas: Povo Favela (78), Pai Herói (80), Relógio do Sol (81), Espaço Marginal (81), O pagode de Amarante (85), Dia de Passos (85) e Da Costa e Silva (85). “Mel de Abelha” era formado por Dácia Ibiapina, Valderi Duarte, Luis Carlos Sales, Socorro Melo e Lorena Rego. Os principais temas tratados pelas produções do grupo são as questões morais, educação, cidadania e uma preocupação em resgatar as tradições culturais do Estado.

A sátira e a ironia eram características presentes nesses filmes, por serem crias do período da Ditadura e Censura. O que pode-se perceber é que, na contramão do cinema nacional, que se deslumbrava com o Cinema Novo, o Piauí via no Cinema Marginal sua única forma de uma manifestação audiovisual efetiva. Uma das causas da “adoção” desse formato não deixa de ser a precariedade de recursos. Até a década de 80 não havia nenhuma lei de incentivo ao cinema. Todo o desenvolvimento do audiovisual no Piauí era de inteira responsabilidade de seus criadores – como ainda o é. No nosso Estado não se falavam em leis de incentivo e políticas públicas, financiamento, além de incentivo à pesquisa. Uma realidade que não mudou muito, numa análise contemporânea.

Do modo como operaram suas bases e transformações, a produção audiovisual piauiense esboça um sentimento de não pertencimento dentro da história do cinema nacional. Por não se adequar ao mainstream tanto do Cinema Novo quanto do Cinema Marginal, resumiu-se a um olhar muito particular sobre nós mesmos. O nosso protesto é mais econômico e social do que político ou existencialista, embora tudo pareça estar no mesmo pacote. Enquanto Ruy Guerra mexia com o militarismo em Os Fuzis, Durvalino Filho mostrava os hippies daqui em David a Guiar. Nossos temas parecem ser de interesse só nosso, feito de uma maneira a construir uma identidade visual piauiense a partir do cotidiano de uma época, ou de épocas diferentes.

A primeira metade da década de 90 é marcada pelo fechamento da Embrafilme, que desertificou a produção nacional. Muito tiveram que se reinventar para sobreviver (Arnaldo Jabor virou jornalista) e outros simplesmente se deixaram morrer. No Piauí, começam a acontecer as iniciativas isoladas que continuam até hoje de jovens crescidos na geração dos videoclipes. Douglas Machado faz o curta-metragem A Ponte em 1994, já esboçando o olhar que seria marcante nas produções do fim da década e início da outra da noite teresinense e da juventude que anseia por diversão e arte. Com muita persistência, lança seu Cipriano em 2001, fazendo desabrochar um sentimento de Cinema por parte da população. Com isso surgem os nomes de Dalson Carvalho, Alan Sampaio, Monteiro Júnior, entre outros, que se destacam depois de várias produções amadoras no fim do milênio.

A vertente marginal volta a ser assumida com as produções de Aristides Oliveira, que também organiza a Mostra de Cinema Marginal, já com duas edições. Também ocorre o boom dos documentários legitimamente piauienses, com uma preocupação econômica e social mais frouxa, porém ainda presentes nas entrelinhas. Os editais, as leis de incentivos, o apoio das empresas privadas começam, ainda que timidamente, a fazer parte da vida dos jovens cineastas do Estado. A televisão se rende e começam a aparecer programas voltados para cinema e com a exibição de curtas-metragem feitos aqui, assim como tem acontecido mais festivais e mostras de filmes nossos, com público a cada ano maior.

As salas de cinema, agora presas aos shoppings, também começam a abrir suas entradas às produções locais. Depois de Cipriano, tivemos exibições de No Meio do Caminho (2004) e Insone (2005), de Monteiro Júnior, O Confidente (2005), de A. José, e Entre o Amor e a Razão (2006) e Ai que Vida! (2007), de Cícero Filho. O sucesso deste último mostra o quanto o público está ávido por produções que o refletem na tela grande. Nas salas foras do shopping, digamos assim, pudemos conferir vários curtas e documentários, como Um Corpo Subterrâneo (2007), de Douglas Machado, A Noite e a Cidade (2005), de Monteiro Júnior, O Cine Rex e Nós (2007) e Um Homem sem uma Câmera (2007), de Alan Sampaio, e Corpos Humanos (2007) e Quem São os Mestres? (2008), de Dalson Carvalho, entre diversos outros.

Após o movimento em super-8 nos anos 70 e o Mel de Abelha na década seguinte, não tivemos mais manifestações coletivas e unidas em prol de uma produção audiovisual. Talvez o mais perto que se tenha chegado disso na nossa história recente tenha sido o movimento denominado Kitupira, que tinha à frente o jovem cineasta Alan Sampaio. Contudo, com sua morte precoce no Natal de 2007 não houve tempo para o Kitupira mostrar a que veio. De agregação de pessoas com vontade de se expressar por meio do audiovisual, têm-se as oficinas realizadas pela Associação Brasileira de Documentaristas – seção Piauí, que busca formar jovens capacitados a compreender tecnicamente o cinema e a estar apto a realizá-lo, promovendo viagens ao interior e produção de curtas-metragens com seus participantes.

Como o campo cinematográfico entrecruza com os campos cultural, no caso as outras artes, político (filmes com mensagens políticas, com ideologia, e até mesmo a falta de políticas de financiamento e apoio), econômico (o difícil acesso aos equipamentos, na grande maioria caros, e a falta de apoio de instituições e governo) e social (interesse das pessoas em conhecer e apreciar a produção local), é preciso um fortalecimento desses campos para que a produção audiovisual possa se cristalizar. Ainda parte de iniciativas isoladas e vem conquistando espaço graças às temáticas nas quais o público se reconhece na tela. Algumas são mais universais e outras mais específicas. Os movimentos cineclubistas estão escassos, o “cinema piauiense” agora pertence a angústias individuais de jovens com vontade de se expressar. Ele se reconhece no vazio das relações interpessoais. Na falta de ideologias, fala-se de si mesmo. Se depender disso, ainda seremos espectadores de muitos filmes genuinamente da terra.

Colaboração:
Ivana Machado, Nina Nunes, Naira Sérvio, Afonso Rodrigues

Texto:
Monteiro Júnior
fonte: http://www.acessepiaui.com.br


                                                    O Balandê de seu Coelho, doc de Noronha Pessoa








TORQUATO NETO: na foto como o Nosferatu, ao lado de Scarlet Moon

 mais sobre o assunto;http://npdpiauilfotografojosemedeiros.blogspot.com/

sábado, 14 de agosto de 2010

 

                             
03 de Julho de 2008
Livro piauiense ganha prêmio do IPHAN
O livro tem como objetivo incentivar novos pesquisadores
O livro “Carnaúba, Pedra e Barro na Capitania de São José do Piauhy”, que registra a história do Piauí através da arquitetura e construções de prédios desde a colonização até o século passado acaba de receber um importante prêmio concedido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN.

O livro, de autoria do arquiteto e pesquisador Olavo Pereira, apresenta os elementos característicos e a matéria-prima daquelas construções. Organizado em três volumes, o livro contém a pesquisa que ganhou o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, na categoria Pesquisa e Inventário de Acervo .

Cada volume do livro trata de um tema: urbanismo, a origem e o desenvolvimento das vilas e cidades no Estado, estabelecimentos rurais, mostrando como eram as fazendas do Piauí colonial e arquitetura urbana, construções civis, religiosas, oficiais, militares, industriais e funerárias.“É um estudo que começou de forma independente, durou uns 20 anos. Só depois ganhou apoio. Tem como objetivo incentivar novos pesquisadores, e a ajuda na criação de projetos de preservação desses ‘monumentos’”, diz o arquiteto e autor premiado Olavo Pereira.

O livro oferece um modo de ver e de sentir essas estruturas, disponibilizando uma vasta gama de informações técnicas sobre a origem e evolução das cidades do Piauí nos séculos XVIII, XIX e XX, da colonização à República, bem como das técnicas e sistemas construtivos empregados em sua arquitetura, além de abordagem sobre as condições de preservação desse acervo.

VESTÍGIOS DE HISTÓRIA - Durante a pesquisa Olavo destaca que encontrou “vestígios de fazendas antigas, elementos importantes de construções que não existem mais, elementos religiosos de igrejas feitas por jesuítas na região de São João do Piauí. É um registro que serve como referência do povoamento das fazendas nacionais”.

Olavo é Arquiteto, Urbanista e Especialista em Restauração e Conservação de Conjuntos e Monumentos Históricos. Ele mora em Minas Gerais desde 1968. E diz que resolveu vir fazer essa pesquisa no Piauí pela carência de informações que havia no estado.

“A falta de referências sobre o acervo arquitetônico e urbanístico do Piauí me motivou a fazer esse levantamento sobre as casas, os elementos construtivos (carnaúba, pedra e barro, que ao nome ao livro). Para evidenciar essas referências históricas e também incentivar programas de proteção, preservação que devem ser incluídos nos projetos oficiais”, explica Olavo, que percorreu cerca de 50 municípios do Estado, conversando com pessoas, e pedindo licença para documentar desde as enormes sedes das fazendas à mais rústica construção de pedras empilhadas.

O resultado desta peregrinação histórica está no livro já está disponível nas livrarias piauienses desde seu lançamento oficial em novembro de 2007.

fonte;http://www.arquitetura.com.br
Em um artigo publicado no livro Cidade/História e Memória, Teresina - 150 anos, intitulado "Em busca de uma cidade perdida", o historiador Francisco Alcides do Nascimento ressalta a frustração de pessoas que,
ao retornar a Teresina, depois de alguns anos de ausência, não mais reconhecem a cidade de sua infância, de sua juventude. Para ilustrar, ele cita a reação do poeta Ribamar Ramos, depois de longa temporada fora de Teresina - onde passou sua juventude -, resolvido a não mais voltar à cidade.

"O seu interlocutor teria perguntado a razão dessa decisão. A resposta foi imediata: 'a Teresina do meu tempo já não existe mais. Demoliram o Café Avenida, o Bar Carvalho e seu cozinheiro espanhol não fazem
mais parte da paisagem da praça Rio Branco'. A cidade do "tempo do poeta" é colocada em oposição à cidade visitada. Esta lhe é desconhecida e ele sente um certo estranhamento. A cidade latente em sua memória é narrada e ganha um novo suporte, a história", diz o texto de Alcides do Nascimento.

Continuando, o historiador assinala que "a cidade de Ramos resulta do exercício de lembrar que no lugar de um estacionamento existia o Café Avenida, local onde a elite intelectual, até o início da década de 1940, se juntava para discutir os últimos acontecimentos da cidade, do país e do mundo". Em outro parágrafo,
Alcides do Nascimento diz que "a realidade de Teresina demonstra que nem sempre os edifícios construídos servem de referência durante toda a nossa vida. Aliás, esse parece ser um problema relacionado com o Brasil inteiro, a sedução pelo novo tem nos deixado sem algumas referências".

Porém, o personagem citado por Alcides do Nascimento é um entre milhares que, ao retornar a Teresina, depois de certa ausência, se depara com estacionamentos em lugar de prédios que contavam um pouco da
vida da cidade; construções que ajudavam na busca do passado, uma referência que agora aparece apenas na lembrança ou numa  velha fotografia esquecida em alguma gaveta; mais uma peça de museu. Infelizmente essa descaracterização tem sido uma rotina na cidade: o novo sufocando, apagando a memória, ajudando no surgimento de uma nova cidade sem passado, como se tivesse surgido por encanto, desconhecida de seus filhos de antigas gerações.

Para o historiador Jussival Sousa, de algumas décadas para cá, Teresina vem se descaracterizando com a derrubada de prédios antigos que dão lugar a estacionamentos ou a construções modernas. Ele adverte que, dentro de pouco tempo, se não for tomada uma decisão séria dos órgãos competentes, a história
de Teresina irá se resumir a documentos e peças de museus. "Se ao menos conservassem a fachada,
ainda poderíamos mostrar às novas gerações a história do crescimento da cidade, mas muitos prédios estão sendo demolidos por inteiro", assinala.

Citando como exemplo recente a derrubada de uma antiga casa localizada no cruzamento das Ruas Davi Caldas e Areolino de Abreu, o historiador ressalta o que fizeram com Avenida Frei Serafim: "Muitos casarões e sobrados da Frei Serafim foram derrubados, para que fossem erguidos prédios de arquitetura moderna - resultando no desaparecimento de um belo conjunto arquitetônico que contava a história da Teresina das primeiras décadas do século XX", observa.

"O referencial de saber o passado é a memória, que pode estar nos documentos, na oralidade e nas edificações", argumenta, acrescentando que não é contra a modernização da cidade, mas que esse processo seja desenvolvido de forma responsável: "O que não está certo é a chegada dessa modernidade como um tsunami, varrendo a memória da cidade - o que é lamentável", assinala.

"Quando se fala em modernidade se ressalta muito a preservação do meio ambiente, mas porque não poderiam estar no mesmo patamar de importância essa modernidade, o meio ambiente e a nossa
memória?", indaga.

Jussival deixa claro que não é contrário às transformações que os tempos modernos impõem à Teresina, desde que se tenha respeito pelo passado. "O que vamos deixar para as futuras gerações? Só fotos? Só histórias a serem contadas? Parafraseando o mestre Alcides Filho, 'a cidade que hoje vivo não é mais a cidade que eu conheci; a cidade que me apaixonei'", concluiu.
fonte:http://www.sistemaodia.com










 

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O Fogo da Boa Vista

    A Coluna Prestes foi um movimento político-militar de origem tenentista, que entre 1925 e 1927 empreendeu uma marcha pelo interior do Brasil defendendo reformas políticas e sociais e combatendo o governo do presidente Artur Bernardes (1922-1926). No ambiente de contestação às oligarquias e sob a influência do tenentismo, remanescentes da Revolução de 1924 uniram-se a dissidentes do Rio Grande do Sul e seguiram para o interior. Sempre conseguindo vitórias, a Coluna combateu forças regulares e milícias privadas de fazendeiros. A Coluna que poucas vezes enfrentou grande efetivo do governo empregava táticas de guerrilha, para confundir as tropas legalistas. Cerca de 1200 homens, chefiados por Juarez Távora, Miguel Costa e Luiz Carlos Prestes percorreram, durante 29 meses, 25 mil km nos estados de Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. Ao final de 1926, com mais da metade dos combatentes atacados pela cólera e sem poder continuar a luta, a Coluna procurou asilo na Bolívia. Não conseguindo derrubar o governo do presidente Washington Luiz (1926-1930), mas a invencibilidade da Coluna contribuiu para o prestígio político do tenentismo e reforçou as criticas as oligarquias. Sua atuação ajudou a abalar os alicerces da República Velha, a preparar a Revolução de 1930, a afirmar a liderança nacional de Luiz Carlos Prestes.

    A passagem da Coluna Prestes por Bocaina, Piauí, deixou rastro de pavor, e o pânico tomou conta da população. Cerca de duzentos revoltosos compunham o grupo. Eles permaneceram na região vários dias, ocasião em que invadiam casas, fazendas, retiros, sempre à procura de bens, víveres, animais, ouro, prata e tudo que pudesse ajudar nos custos da revolução comunista encetada por Luiz Carlos Prestes, que não fez parte deste grupo e não participou deste episódio. Foram ações dessa natureza que rotulou a Coluna com uma imagem negativa, pois transmitia o medo generalizado na população.

    O fato mais importante dessa intentona na região se deu na data de 20 de janeiro de 1926 na fazenda Boa Vista, zona rural de Bocaina, ocasião em que os revoltosos ocuparam a propriedade obrigando a fuga de parte da família do fazendeiro e comerciante Cícero Gomes Vieira, permanecendo dois de seus irmãos e uma criada, como reféns. Este acontecimento ficou registrado nos anais da história como “O Fogo da Boa Vista”, e permanece vivo até hoje na memória do povo bocainense.

    O confronto entre os membros da Coluna e as tropas legalistas durou mais de duas horas, ficou gravemente ferido o senhor Ciro Gomes Vieira e morto seu irmão Arlindo Gomes Vieira que fora abatido pelas forças leais ao governo que o confundiu com um dos revoltosos.

    Segundo a crônica local, as tropas legalistas saíram vencedoras e os revoltosos fugiram para o Ceará com muitas baixas. Na fuga perderam um alforje com dinheiro, prata e ouro que foi encontrado pela agregada Maria de Rufino, que com medo de maiores conseqüências e em obediência o entregou ao seu patrão senhor Cícero Gomes, que ampliou ainda mais sua fortuna.

    A fazenda Boa Vista outrora fez parte do grande patrimônio do genearca Raymundo de Souza Britto, filho de Borges Marinho, que a deixou como herança para um de seus filhos, o capitão da Guarda Nacional Antônio Francisco de Souza Britto, este consequentemente a deixou para um de seus descendentes Vicente Francisco de Sousa Britto, seus herdeiros a venderam a Cícero Gomes Vieira, que da mesma forma procedeu, vendendo a propriedade ao atual dono, senhor João Trajano.

    A propriedade era composta de açude, engenho de cana, pastagens, juncais, currais de madeira, cercas de pedras, e a casa da sede principal construída nos moldes dos grandes latifúndios nordestinos, inclusive, preservando no seu interior, os recursos de escadaria e sótão, que servia de abrigo em épocas de tensão como este episódio em epígrafe, sendo que na lida cotidiana, servia para o patrão postar-se na janela de onde, célebre, ordenava as atividades e afazeres corriqueiros do dia aos seus empregados.

    A propósito: contava e cantava o poeta e folclorista bocainense Luiz Camilo, que por ocasião do fogo da Boa Vista um outro descendente da figura histórica e lendária de Raymundo de Souza Brito, o senhor Carlos Antônio de Souza Brito, mais conhecido por “Véi Carrim” acometido de imenso pavor, saiu correndo da fazenda Boa Vista até o arraial “Aroeiras” no sopé do Morro Grande, e, lá chegando, esbaforido pelo cansaço e pelo medo, narrou os acontecimentos carregado de grande emoção; daí ficou perpetuado para sempre nos versinhos do poeta alusivo ao fato:


 “No fogo da Boa Vista
  Carrim deu de lá pra cá,
  Chegando nas Aroeiras
  Modesto, vamos rezar,
  Que guerra começou
  E nóis vamos se acabar”.


* Cronista membro da UPE – União Picoense de Escritores
Do site: http://www.fnt.org.br/artigos.php?id=188, Portal do sertão.



segunda-feira, 5 de julho de 2010



RAMSÉS RAMOS
(1962-1998)


Nasceu em Teresina, Piauí, descendente de família de músicos. Viveu em Brasília e trabalhou nas Nações Unidas, como chefe do Cerimonial e de Relações Internacionais. Viveu também na Tchecoeslováquia e na Espanha. Faleceu na Rússia.

Lançou seis livros de poesia:  Dois Gumes (1981), com Rosário Miranda; Envelope de Poesia (coletivo); Dança do Caos (1981), com Kenard Kruel, Eduardo Lopes, William Melo Soares e Zé Magão; Percurso do Verbo (1987); Baião de Todos (coletivo, 1996); e Poemas da Paixão (Praga, 1992). 


saudade me botou na parede

— há de chorar

mas eu sei que a rede
em que me reparto
é um banquete raro
tanto fino quanto farto

saudade triscou no gatilho
— impossível não prantear

mas eu sinto que o ato
entre o partir e o ficar
é o fico, não o parto


sete pecados do amor

o melhor amor é o que não faz alarde
(mar como arde)
ao melhor amor nunca se esquece
(mas quem merece?)
melhor amor sempre tem dinheiro
(onde, o banqueiro?)
o melhor amor é desinteressado
(todo mundo é culpado!)
melhor amor jamais atraiçoa
(desse se caçoa)
o melhor amor te amará eternamente
(quanto se mente!)
o melhor amor, enfim, de tudo abdica
(esse, com quem fica?)



Poemas extraídos de
TAVARES, Zózimo.  Sociedade dos Poetas Trágicos. Vida e obra de 10 poetas piauienses que morreram jovens.  2 ed.  Teresina, Piauí: Gráfica do Povo, 2004.

e també do site; http://www.antoniomiranda.com.br




PAULO JOSÉ CUNHA

É poeta, jornalista, professor e documentarista piauiense que nasceu no Rio de Janeiro e vive em Brasília. Publicou em 1984 seu primeiro livro de poemas, Salto sem Trapézio (Senado Federal, Coleção Lima Barreto, Vol. 5, Brasília) e 25 anos depois lançou o segundo, Perfume de Resedá, uma coleção de memórias prefaciadas pelo poeta H. Dobal, sob o selo da editora Oficina da Palavra, de Teresina. Participou das antologias Poesia de Brasília (org. Joanyr de Oliveira) e Mais Uns – Coletivo de Poetas (coord. Menezes y Moraes).

Publicou também dois livros de arte sobre a festa dos bois-bumbás de Parintins, Vermelho – Um Pessoal Garantido e Caprichoso – A Terra do Azul, além dequatro grandes edições de Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês. Em 1978, lançou A Noite das Reformas, um livro-reportagemsobre os bastidores da votação da emenda que extinguiu o AI-5. Como jornalista trabalhou nas sucursais da TV Globo e de O Globo, Rádio Nacional e Jornal do Brasil, em Brasília. Atualmente é âncora de três programas na TV Câmara e leciona na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.

Primo do tropicalista Torquato Neto, PJC recebeu do poeta H. Dobal o seguinte comentário pelos poemas de O Salto Sem Trapézio: “O jornalismo e a juventude lhe deram a possibilidade de usar temas e linguagem atuais, sem o perigo de cair no vulgarismo e no artificialismo dos modismos passageiros. E quanto a isto, sua poesia tem um aspecto único”.

Sobre Perfume de Resedá, H. Dobal, que faleceu em maio deste 2009, deixou registrado: “Uma das funções da poesia é desencantar lembranças, sujeita, no entanto, ao risco de tornar-se apenas uma prosaica enumeração. PJC cumpre esta função, evitando este risco. O seu mundo poético surge da poesia intrínseca das lembranças, realçada pelo poder que as palavras adquirem no contexto.” 
Página preparada por Angélica Torres Lima.


O CASO DOS DOIS BEIJOS
 
No tapete ao lado da cama,
hoje pela manhã,
encontrei dois beijos vadios
que se desprenderam à noite
de teus cabelos
e caíram no chão. 
Um deles (o mais tímido)
machucou-se um pouco na queda,
chora e só fala em voltar pra casa.
Já o outro, de uma família de saltimbancos,
em troca de dois vinténs
tomou o lugar de um dos meus. 
Agora, teu beijo saltimbanco anda comigo.
Faz piruetas dentro do bolso da calça,
e diz que nunca mais voltará pra casa. 
Enquanto isso o meu beijo, um andarilho,
fugiu e agora anda contigo.
Tem feito longas caminhadas pelo teu rosto,
se enrosca em teus cabelos,
escorrega pelo teu corpo,
pendura-se no bico de um seio,
vez por outra se esborracha no chão,
e, com um sorriso safado,
abre os bracinhos
e diz umas piadas sujas
que te fazem rir,
            encabulada...  


A ATRAÇÃO DO ABISMO

Súbito, o silêncio.
O ruflar das asas do condor sobre os quintais,
e o som de sua voz absoluta: 

- Já sabes a hora?
   E o dia, já sabes o dia?,
   ou vais deixar que o acaso te encontre
   fiando a tua covardia?

ENQUANTO SEU LOBO NÃO VEM
 
Sigamos juntos, vamos de mãos dadas
Que apesar das noites, restam as madrugadas.
Sigamos de mãos dadas, vamos
Para algum lugar, longe daqui, sigamos.

Pois mesmo que o caminho seja escuro,
os muros sejam altos, e as arestas, afiadas
alguma luz se infiltrará nas frestas
e algo muito puro, que não sei o nome,
circulará por entre as mãos entrelaçadas

Vamos pela noite sem deixar pegadas
que a morte é certa; a vida, curta; e o mundo, enorme.
Me dá tua mão, sigamos juntos, vamos
que a rua está deserta e o monstro dorme.



fonte; http://www.antoniomiranda.com.br, mais nesse site.


ÁLVARO PACHECO

Nasceu em 28 de novembro de 1933 no Piauí e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1959. Jornalista, editor, poeta, advogado de formação.

“...os poemas de Álvaro Pacheco tocaram este leitor: na era do homem de acrílico a poesia continua a emitir sinais luminosos e confortadores, por mais que se queira esvaziá-la de todo sentido — e a sua tem aquele propriedade.” Carlos Drummond de Andrade

“Álvaro Pacheco é o conciliador do antigo com o moderno, do urbano com o rural, da esperança com o desengano, do discurso coma paisagem significativa. Atrai também o seu jeito de fazer poesia, isto é, o estilo, mistura de espontaneidade e amarga filosofia. Uma crosta festiva, alegre cobrindo com travo de amargura que — importante! — não se derrama, não se vulgariza. E metendo um palavrão dentro do poema, tão natural, sem chocar, sem constranger. Funcional.” Fábio Lucas


DOR

A mão se fecha
você se crispa
em dor. 

Você se crispa
a dor se abre
em flor: 

e você não sabe
na terceira pessoa do singular
porque realmente sofrer
essa dor plural. 



SOLIDÃO


Que ninguém me conspurque este momento
de estar comigo
e me deixe intata a solidão.

que ninguém venha
na hora de não vir — e vindo
me deixe desolar.

que ninguém me conspurque a solidão
e me deixe crestar
ao reflexo e na massa intata
da lava dessa hora de mim mesmo
a consumir-se inteiro.

                      Vitória, agosto de 1968

 

 Rio de Janeiro: Aeroplano, 2003
Em estado de perplexidade frente a tudo que remeta ao não-sentido de ser, a voz de Álvaro, estoicamente, contempla o vazio da transcendência e acolhe a inelutável dissolução da matéria (...)”  Antonio Carlos Secchin

Alcides Freitas nasceu em Teresina, em 4 de julho de 1890. Estu­dou no Liceu Piauiense, cursou Humanidades e, terminado o curso, em 1906, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Bahia. Na defesa da tese de doutorado, na área de Fisiopsicopatologia, produziu um texto - Da Lágrima - que já revelava o grande poeta que existia dentrC? de si, pois era muito mais afim à literatura do que à ciência. A tese foi publicada em 1912, o mesmo ano da edição do livro Alexandrillos, escrito em parceria com o irmão Lucídio Freitas.

Publicado em outubro de 1912, o livro Alexandrinos mereceu elo­gios de críticos de renome nacional, como Osório Duque-Estrada, autor do Hino Nacional Brasileiro, José Veríssimo, Clóvis Beviláqua e Laudemiro de Menezes. Também os piauienses, como Zito Baptista, An­tônio Chaves, Abdias Neves é Cristino Castelo· Branco, aplaudiram a obra de estréia do poeta.

Conta a professora Socorro Rios Magalhães que, antes mesmo do lançamento do primeiro livro, os jovens poetas Alcides Freitas e Lucídio Freitas já gozavam de grande prestígio entre os conterrâneos. "A par do pendor pelas letras, demonstrado desde a infância, e dos estudos superiores feitos fora do Estado, eram ainda filhos de Clodoaldo Freitas, naquele tempo já uma legenda no meio intelectual e político do Piauí", destaca a professora .
   
O bambu

Exposto ao dia, à noite, à beíra da lagoa,
Onde se miram, rindo, as boninas do prado,
Vive um velho bambu, velho, curso e delgado,
A escutar a canção que o triste vento entoa ...

Jamais os leves pés de um trovador alado,
Desses que pela mata andam cantando à toa,
Pousara-lhe num ramo! Apenas o povoa
Alta noite, agourento, um corujão rajado ...

E vive, — arcaico monge a gemer solitário,—
­A sua dor sem fim, o seu viver mortuário,
Tristonho a refletir no fundo azul das águas ...

Como bambu da mata, exposto ao sol e ao vento,
Do deserto sem fim de meu padecimento,
Triste nos olhos teus reflito as minhas mágoas!. ..

(Alexandrinos, 1912)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Por Adrião Neto 


Cláudio Bastos formou-se em Administração Pública e em Sociologia e Política. Foi professor universitário, pesquisador, escritor e jornalista. Lecionou nos cursos de pós-graduação da Faculdade de Ciências Gerenciais da Universidade de Negócios e Administração, em Belo Horizonte. Era membro do Instituto Genealógico Brasileiro, do Colégio Brasileiro de Genealogia, da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba.

Dentre as sua obras destacam-se o “Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí”, editado em 1994, pela Fundação Cultural Mons.  


Em 23 de agosto de 2004, no dia em que comemorava 69 anos de existência, o pesquisador piauiense Cláudio de Albuquerque Bastos, foi vítima de um enfarto fulminante. Ele era teresinense, mas vivia há muitos anos na capital mineira, onde estudou, constituiu família e desenvolvia as suas atividades profissionais.
 

 PIAUÍ – SUA HISTÓRIA E SEUS HISTORIADORES


Por Adrião Neto

Comentários de medalhões da intelectualidade piauiense dão conta de que determinada obra sobre um dos principais episódios da História do Piauí, publicada por uma grande editora, seria superficial e uma das mais fracas do gênero, simplesmente pelo fato de ter sido elaborada por um escritor sem formação acadêmica na área de História.

Refletindo sobre essas críticas e sobre a censura de que o autor da obra em foco teria invadido uma seara proibida, infringindo assim os Sagrados Mandamentos da Lei de CLIO (Deus da História), resolvi fazer um levantamento sobre o acervo historiográfico do Piauí e sobre a formação acadêmicas dos nossos historiadores.

Pelas pesquisas que realizei ficou constatado que uma coisa não tem relação com a outra, vez que, as principais obras do nosso acervo historiográfico e outras de relativa importância, incluindo-se também algumas de cunho municipalista, foram legadas por escritores de outras áreas do conhecimento e até mesmo por autores sem formação acadêmica, como é o caso do mestre Odilon Nunes, que é considerado como o maior historiador do Piauí de todos os tempos.

Se realmente para se dedicar a um gênero literário fosse necessário ter formação específica, haveria a necessidade de se ter cursos de graduação em romance, conto, crônica, poesia, etc.

Por outro lado, se, por um passo de mágica a contribuição dos historiadores de outras áreas do conhecimento fosse deletada dos livros, e se a historiografia do Piauí contasse apenas com a produção dos historiadores formados em História, o nosso acervo historiográfico não passaria de um grão de areia no meio do deserto.

Como prova de que, o que afirmei no terceiro parágrafo não é história para boi dormir, transcrevo uma relação de autores acompanhada da formação acadêmica de cada um deles e de suas respectivas obras no campo da historiografia.

Autores sem formação acadêmica na área de História e suas respectivas obras:

Abdias Neves – Bacharel em Direito, autor de: "O Piauí na Confederação do Equador"; "Contribuições para a História do Piauí"; "Aspectos do Piauí"; "O Piauí nas Lutas de 1824" e "A Guerra de Fidié".

Alcides Martins Nunes – Formado em Direito, autor de: "Cronologia Histórica de Valença" e "Anuário de Valença do Piauí", coautoria.

Anísio Brito – Formado em Odontologia, autor de: "Contribuição do Piauí à Guerra do Paraguai"; "O Município Piauiense"; "A Quem Pertence a Prioridade Histórica do Descobrimento do Piauí?"; "Adesão do Piauí à Confederação do Equador"; "Independência do Piauí"; "Os Balaios no Piauí" e "Fazendas Nacionais no Piauí".

Antônio José de Moraes Durão – Formado em Direito, autor da "Descrição da Capitania de São José do Piauí", escrito em l772.

Antônio Reinaldo Soares Filho – Geólogo, autor de: “Oeiras Municipal”.

Antônio Sampaio Pereira – Sem formação acadêmica, autor de: "Esperantina à Luz da História".

Arimatéa Tito Filho – Bacharel em Direito, autor de: "O Piauí no Congresso Nacional"; "Governos do Piauí";"Sua Excelência O Egrégio"; "A Augusta Casa do Piauí"; "Praça Aquidabã, Sem Número"; "Teresina, Ruas, Praças e Avenidas - Roteiro Turístico"; "A Igreja do Alto da Jurubeba"; "José de Freitas, Comunidade Exemplar" e "Memorial da Cidade Verde".

Artur Passos – Sem formação universitária, autor de: "História do Município"; "Roteiro Histórico do Município de Guadalupe" e "História, Economia e Lendas".

Barbosa Lima Sobrinho – Formado em Direito, autor de: "O Devassamento do Piauí".

Benjamin de Moura Batista – Formado em Medicina, autor de: “O Piauí - 1762 a 1920” e “O Piauí no Centenário de Sua Independência”, 4 volumes.

Celso Pinheiro Filho – Formado em Direito, autor de: “História da Imprensa Piauiense”.

Caio Passos – Sem formação universitária, autor de: “Parnaíba – Cada Rua Sua História”.

Carlos Eugênio Porto – Médico, autor de: "Roteiro do Piauí".

Mons. Chaves – Licenciado em Filosofia, tem cursos de Teologia, Escritura Sagrada e Direito Canônico, autor de: “Teresina Subsídios para a História do Piauí”; “O Índio no Solo Piauiense”; “Campo Maior – Lutas pela Independência” (Batalha do Jenipapo); “A Escravidão no Piauí”; “O Piauí na Guerra do Paraguai”; “O Piauí nas Lutas da Independência” e “Como Nasceu Teresina”.

Cláudio Bastos – Bacharel em Administração Pública, em Sociologia e Política, autor do “Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí”.

Pe. Cláudio Melo – Formado em Teologia e Filosofia, tem Doutorado em Sociologia, autor de: "O Piauí, Realidade e Perspectivas de Desenvolvimento"; "A Pobreza Piauiense"; "Os Primórdios de Nossa História"; "A Prioridade do Norte no Povoamento do Piauí"; "Bernardo de Carvalho"; "Os Jesuítas no Piauí" (1992) e "Novas Aventuras de uma Sesmaria".

Cléa Rezende Neves de Melo – Licenciada em Língua Portuguesa e Espanhola e suas Literaturas, Pós-graduada em Filologia Hispânica e em Língua Portuguesa, autora de: “Memórias de Piripiri”.

Clodoaldo Freitas – Formado em Direito, autor de: “História do Piauí”; “Vultos Piauienses” e História de Teresina.

F. A. Pereira da Costa – Bacharel em Direito, autor da: “Cronologia Histórica do Estado do Piauí”.

Herculano Moraes – Sem formação universitária, autor de: “Memorial do Judiciário – Roteiro para a História do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí” e "Visão Histórica da Literatura Piauiense".

Higino Cunha – Advogado, autor de: "O Teatro em Teresina"; "História das Religiões no Piauí"; “Os Revolucionários no Sul do Brasil” e “A Revolução de 1930 no Piauí”.

Joel Genuíno de Oliveira – Sem formação universitária, autor de “Governos do Piauí” e “O Piauí no Congresso Nacional”. Colaborou com os principais jornais de Teresina, onde, diariamente publicava a nota “Atos e Fatos da História do Piauí”.

João Gabriel Baptista – Engenheiro Civil, autor de: Etnohistória Indígena Piauiense; Corográfico do Estado do Piauí” e “Mapas Geo-Históricos do Piauí”.

José Alves Fortes Filho – Sem formação universitária, autor de: “Adesão do Piauí à Independência do Brasil”, opúsculo e “Teresina, de Saraiva a Heráclito”, opúsculo.

José Camilo da Silveira Filho – Bacharel em Direito, autor de: "Breve Introdução ao Estudo Piauiense"; "Rebelião de Pinto Madeira e o Piauí"; "O Cochrane das Caatingas"; "O Piauí na II Guerra Mundial" e "O Piauí na Guerra dos Canudos".

José Martins Pereira de Alencastre – Profissional da área do Direito, autor de: “Memória Cronológica, Histórica e Corográfica da Província do Piauí” e “Estudos Históricos, Notas Diárias sobre a Revolta nas Províncias do Maranhão, Piauí e Ceará.

José Mendes de Sousa Moura – Engenheiro Civil, autor de “Simplício Mendes – História e Notáveis”.

José Omar Araújo Brasil – Sem formação acadêmica, autor de: “Batalha do Jenipapo – Síntese da História 179 Anos - 1823-2002”.

Judith Santana – Sem formação acadêmica, autora de: "Piripiri" e "Parnaíba".

Júlio Romão da Silva – Sem formação universitária, autor de: "Memória Histórica Sobre a Transferência da Capital do Piauí".

Luiz Mott – Licenciado em Ciências Sociais, tem Mestrado em Etnologia e Doutorado em Antropologia, autor de: "Piauí Colonial – população, economia e sociedade".

Maria da Penha Fontes e Silva – Sem formação universitária, autora de: "Piauí - Estudos Regionais do 2º grau", coautoria.

Pe. Miguel de Carvalho – De formação estritamente religiosa, autor da “Descrição do Sertão do Piauí”, escrita em 1697.

Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco (II) – Profissional da área do Magistério e do Direito, autor de: “Apontamentos para a Sinopse da Província do Piauí”. Fundou o Almanaque Piauiense, onde publicou uma série de documentos históricos sobre a Província.

Moisés Castelo Branco Filho – Engenheiro Geográfico, autor de: “História da Revolução no Piauí”; “Povoamento do Piauí”; “História do Comércio de Teresina”; “História de Uma Bandeira - Desbravamento do Piauí”; “Guerra da Independência no Piauí”; “História da Cidade”; “O Piauí na História Militar do Brasil”; “Depoimento para a História da Revolução no Piauí, período revolucionário: 1922-1931” e “A Família Rural do Piauí”.

Nasi Castro – Sem formação universitária, autora de: “Amarante - Um Pouco da História e da Vida da Cidade” e “Amarante, Folclore e Memória”.

Odilon Nunes – Sem formação universitária, autor de: "O Piauí na História"; "Súmula de História do Piauí"; "Pesquisas para a História do Piauí", 4 volumes; “Apontamentos Históricos”; "Economia e Finanças"; “Piauí Colonial”; “Geografia e História do Piauí”; "Os Primeiros Currais"; "Devassamento e Conquista do Piauí"; "O Piauí, seu Povoamento e seu Desenvolvimento"; "Estudos da História do Piauí"; “A Origem das Fazendas Estaduais”; “Domingos Jorge Velho e o Assentamento das Bases Econômicas do Piauí”; “Um Desafio da Historiografia do Brasil” e "Raízes do Terceiro Mundo".

Patrício Franco – Sem formação acadêmica, autor de: “Capítulos da História do Piauí”; “O Município no Piauí”; “História do Banco do Estado do Piauí” e “Uruçuí: Sua História, Sua Gente”.

Paulo Machado – Bacharel em Direito, autor de: As Trilhas da Morte.

R. N. Monteiro de Santana – Bacharel em Direito, autor de: "Perspectiva Histórica do Piauí" e "Evolução Histórica da Economia Piauiense". Organizou o livro “Piauí: Formação - Desenvolvimento - Perspectivas”.

Reginaldo Gonçalves de Lima – Formado em Contabilidade e em Administração de Empresas, autor de: "Geração Campo Maior - anotações para uma enciclopédia".

Reginaldo Miranda – Bacharel em Direito, autor de: “Piauí em Foco”; Bertolinia: História, Meio e Homem”; “Cronologia Histórica do Município de Regeneração” e Aldeamento dos Acoroás”.

Renato Castelo Branco – Bacharel em Direito, autor de: “A Civilização do Couro”; “O Homem, Escravo e Senhor”; “A Conquista dos Sertões de Dentro”; “Senhores e Escravos (A Balaiada)”; “Domingos Jorge Velho e a Presença Paulista no Nordeste” e “A Guerra do Fidié”.

Renato Neves Marques – Sem formação acadêmica, autor de: “19 de Outubro – O Dia do Piauí” e de vários ensaios históricos dentre os quais: “O Apostolado dos Tremembés” e “Nossa Senhora do Monte Serrate, a Padroeira da Vila da Parnaíba”.

Sebastião Martins de Araújo Costa – Formado em Medicina, autor de: “História do Piauí” e “Fundação de Jerumenha”.

Socorro Santana – Sem formação acadêmica, autora de: "Terra de Bruenque".

Toni Rodrigues - Profissional da área de comunicação, ator de: "História de Altos".

Wilson Brandão – Formado em Direito, autor de: “História da Independência do Piauí” e “A Balaiada - Aspectos Sociais e Políticos (Piauí)”.

Wilson Carvalho Gonçalves – Farmacêutico, autor de: “Terra dos Governadores”; “Os Homens que Governaram o Piauí”; “Teresina - Pesquisas Históricas”; “Dicionário Histórico-Biográfico Piauiense”; “Vultos da História de Barras”; “Roteiro Cronológico da História do Piauí”; “Grande Dicionário Histórico-Biográfico Piauiense” e “Dicionário Enciclopédico Ilustrado Piauiense”.

William Palha Dias – Formado em Direito, autor de: “Piauí, Ontem e Hoje”; “O Piauí em Estudos Sociais”; “Caracol na História do Piauí” e “São Raimundo Nonato de Distrito-Freguesia a Vila”.

Zózimo Tavares – Formado em Jornalismo e Letras, Pós-Graduado em Comunicação e Marketing e Mestrando em Linguistica, autor de: “100 Fatos do Piauí no Século 20”.


Obras consultadas:

1) Dicionário Biográfico Virtual de Escritores Piauienses, de Adrião Neto.
2) Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado, de Wilson Carvalho Gonçalves.
3) Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, de Cláudio Bastos. 


Adrião Neto – Dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista, autor do livro “Geografia e História do Piauí para Estudantes – Da Pré-História à Atualidade”. 


fonte www.meionorte.com 


segunda-feira, 7 de junho de 2010




Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina, Piauí, em 09 de Novembro de 1944. Filho de promotor público e professora primária, estudou no mesmo colégio que Gilberto Gil, em Salvador, tornando-se amigo do compositor e conhecendo também os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia.
Em 1962 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou um curso de Jornalismo. Sem o diploma, começou a exercer a profissão em diversos jornais cariocas. 
Foi um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, participou da famosa capa do LP Tropicália ou Panis et Circenses (sentado ao lado de Gal Costa) - nesse disco estão incluídas duas de suas composições: Mamãe, Coragem e Geléia Geral (considerada o verdadeiro manifesto tropicalista).
Um dia após completar 28 anos de idade, ligou o gás do banheiro e suicidou-se. Deixou um bilhete: "Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar"
Era 10 de novembro de 1972 - e o Brasil perdia um de seus maiores e mais geniais poetas.


  Torquatália: do Lado de Dentro: Obra Reunida de Torquato Neto - Vol. 1
Torquatália: Geléia Geral: Obra Reunida de Torquato Neto - Vol. 2
Pra Mim Chega: a Biografia de Torquato
Torquato Neto: uma poética de estilhaços
A coisa mais linda que existe
Ai de mim, Copacabana
Cogito
Começar pelo recomeço
Dente no dente
Destino
Domingou
Geléia geral
Go back Letra Cifrada Para 
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Let's play that
Louvação
Mamãe, coragem Para 
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Marginália II
Minha senhora Para 
ouvir com RealPlayer
Pra dizer adeus Letra Cifrada
Rancho da rosa encarnada

http://www.torquatoneto.com.br/   site completo sobre torquato....




     

sexta-feira, 4 de junho de 2010


A Obra
O primeiro livro de Da Costa e Silva, Sangue, é uma obra evidente ortodoxia simbolista. Pelos temas, pelo vocabulário, pelas imagens, pela construção dos versos e pela musicalidade. Mas já revelava um poeta de dicção própria, personalíssima. Sem afastar-se dos cânones da escola, tal como difundida no Brasil por Cruz e Sousa, predomina em Sangue  -  escrito entre 1902 e 1908 - uma linguagem luminosa, arrebatada e forte um poeta que não esconde a sua sensualidade nem o entusiasmo diante da vida. Sangue, sendo um livro simbolista, "revela um artista curioso por outras possibilidades expressivas" - como observou Darcy Damasceno. "Se a temática o prende aos moldes grupais, não chega a levá-lo à cega subordinação; ao contrário, limita-se ele a alguns tópicos de tratamento universal, como a solidão, o infortúnio, o sonho, a contemplação" Simbolista, "evita a exageração cultista, o rebuscamento gratuito". Escrevendo sob a ascendência do pensamento monista e fenomenista(que agitava o ambiente cultural do Recife de seu tempo e que tanto marcou Da Costa e Silva, Augusto Dos Anjos, Carlos D.Fernandes e outros poetas da época, fazendo com que coincidam tantos de seus temas e de suas metáforas), transforma o que poderia ter sido um cientificismo raso na riqueza expressivas do "Cântico do Sangue", com sua fluidez musical e seu colorido vocálico. Em alguns sonetos("Satã Moderno" e "Ódio Bendito) por exemplo), Da costa e Silva parece dialogar com Baudelaire - e já se disse que todo grande poeta responde a outros poetas que o antecederam. Em um poema em forma de losango, "Madrigal de um louco" ressuscita o carmem figuratum. Em vários outros, experimenta e inova, ao aplicar(como em "Deusa Pagã) os símbolos e as inovações do catolicismo a cantares de extrema sensualidade, ao valorizar as surpresas de certos rejetes ou enjambements habilíssimo("Pureza Obscura"e Tântalo do Infinito"), ao transformar a música do verso, em visão plástica(em sonetos tão diferentes quanto "Ironia Eterna", "Rio das Garças" e "Depois da Luta"), ao unir o vocabulário coloquial ao sermo nobilis simbolista(como em "Canto do Bêbado" e "Josafat").
 Nessa obra de estréia, em que a mulher é o grande tema - e é um grande poeta do amor e da carne no amor o Da Costa e Silva de Sangue (e também o de Pandora)  - , já surgem três outros motivos que continuaram a aparecer, entrelaçados ou isolados, em todo o percurso do amarantino: o sentimento do amor materno; o apego à terra natal; e a identificação do poeta com o rio Parnaíba. O tipo de linguagem inaugurado em Sangue, no tratamento desses temas, não se alterará no itinerário dacostiano. Notam-se apenas, de "Mater"(em Sangue) a "Mater Admirabilis"(em Verônica), de "Saudade"(em Sangue) a "O Carrossel Fantasma"(em Alhambra), de o "Rio das Garças" (em Sangue) a "Sob Outros Céus"( em Pandora) um constante clarear e aprofundamento da expressão, mais direta e mais tensa de poema pra poema - o que não se verifica, porém, no confronto de "Saudade", perfeito e completo na concisão de seus 14 versos, com a derramada e comovente confissão de "O Carrossel Fantasma".
O Segundo livro de Da Costa e Silva, Zodíaco, é também uma obra simbolista. Não é um recuo para o parnasianismo, como escreveram alguns críticos, mas um avanço a um outro tipo de simbolismo, distinto do que se praticava no Brasil, mas fazia a glória de Verhaeren e de outros poetas belgas. Quem bem percebeu isso  foi um comentarista arguto, conhecedor profundo das literaturas européias, Willy Lewin, que, 33 anos depois do lançamento de Zodíaco, o considerou um "exemplar apurado da lição simbolista européia - música entre brados sonoros". Oswaldiano Marques recusa porém essa qualificação e prefere considerar Da Costa e Silva, a partir de Zodíaco, como nosso primeiro poeta impressionista.
Zodíaco era em tudo um livro ambicioso e inovador. Não era uma simples coletânea de versos. Ainda mais que os outros volumes de Da Costa e Silva, é um livro que fala como livro. Cada um de seus poemas vale como poema e como parte de um todo - ou até mesmo de um único poema, formado de fragmentos simétricos. Composto entre 1909 e 1915, era o cumprimento de um ambicioso projeto de descrever a máquina da natureza. Descendia dos sonetos piauienses de Sangue (como "Saudade" e Rio das Garças") e deriva do desejo de Da Costa e Silva de trazer para junto de si, na distância e no exílio, as  paisagens, os fenômenos naturais e os trabalhos dos homens de sua terra natal. Isso explica o lugar especial que têm, nessa espécie de reconstrução verbal da natureza, os sonetos que englobou sob o título de "Minha Terra. Amarante - parece dizer-nos o poeta - foi o seu ponto de partida para o conhecimento poético do mundo e é em torno de sua paisagem que se movem a realidade e o sonho.
 Da Costa e Silva jamais se desprendeu do Piauí. E confessaria mais tarde, num momento de crise e desencanto, a Esmaragdo de Freitas: "A nostalgia de minha terra vem-me, quando em vez, numa toada de reza. E tenho a idéia de revê-la, com a vontade de Anteu: experimenta a vista no estirão do rio, penetrar os pulmões do eflúvios da mata e ouvir, a mão em concha, o mugido dos bois..."
O poema de abertura de Zodíaco anuncia o vôo do projeto.E o livro tem todas as marcas de uma obra pensada e integrada. Nesse e em muitos outros aspectos - o verso livre ou polimétrico e a riqueza de seus efeitos sonoros, o sentimento real da paisagem e a preocupação com os efeitos destrutivos da atividade humana(nítida em poemas pioneiramente ecológicos como a "A queimada" , "A derrubada" e o soneto II de "Sub Tegmine...") - Zodíaco é um importante marco na história da poesia brasileira. 
O gosto pelas aliterações, onomatopéias e paronomásias; a capacidade de jogar com os elementos visuais, musicais e semânticos da palavra e do verso; as invenções rítmicas e a fluidez dos versos livres; as surpresas de certas rimas("encanta-nos" e "pântanos", por exemplo); o sábio emprego das repetições, dos ecos, das rimas internas e das dissonâncias - tudo isso mostra o grande artista capaz de domar a inspiração e prestabelecer os rumos do que vai compor. Os poemas longos de Zodíaco são escritos como para orquestra e grande coro. "Mais parecem" - para usar as expressões de Osório Borba - "trechos de música, na sua missão sutilíssima de reproduzir os diversos ruídos do mundo". Em outros poemas - sobretudo nos sonetos sobre animais("O Caramujo", "A lagartixa", "O Sapo", "A Cobra", "A Aranha" e "O Besouro" - logra Da Costa e Silva oferecer uma representação vocabular dos contornos, volumes e movimentos da natureza viva. 
Quando Zodíaco entrava no prelo, Da Costa e Silva foi a um jornal levar um artigo. Lá soube, por um telegrama de Bruxelas, da morte, sob um trem, de Emile Verhaeren. Comovido, Da Costa e Silva sentou-se e escreveu, de um jato, o belíssimo poema " Verhaeren", em cujo texto usa versos e imagens do homenageado, inaugurando assim uma forma de canto de louvor que seria mais tarde utilizada por outros poetas.
 Boa parte dos poemas que formam Pandora, o terceiro livro de Da Costa e Silva, foi escrita ao mesmo que Zodíaco. Se este é obra do poeta experimental, aquele responde com um sim às seduções do parnasianismo. Antes de mais nada, porém, Pandora  nasce de um convívio intenso e íntimo com o Quinhentismo e Seiscentismo literários e com raízes clássicas de nossa cultura. É uma obra que nos reaproxima do espírito grego e, pela consciência do que é clássico, nos devolve os temas de Sangue, serenizados  e aprofundados. Como escreveu Tristão de Athayde, "O autor do Zodíaco,  a Grécia ensinou o caminho da beleza, para que a procurasse em si mesmo". Em si mesmo e no rio Parnaíba, que continua a tocá-lo fundamente e a explicar-lhe a vida( como se vê no admirável soneto IV de "Sob os Outros Céus"); em si mesmo e na amorosa saudade de sua mãe("Sombra de Ouro", "Mater Veneranda") e de sua cidade natal( "Sob Outros Céus"). 
Em Pandora convivem e se interpretam, em perfeita harmonia, os temas da Grécia mítica e da infância perdida, o poeta como que enlaçado as duas nostalgias, as duas idades de ouro. Se diz ser "um grego inatual"("Paganismo"), confessa, sem mudar de tom ou de vocabulário, ter vindo"ao mundo para ter saudade"("Sob Outros Céus"). A Grécia faz-se símbolo de uma idealização do passado e pouco falta para que se situe, na geografia espiritual de Da Costa e Silva, "sob o límpido céu, ao sol radiante,/entre os rios, as árvores e a serra", em que "braquejava a casaria de Amarante". 
João Ribeiro considerava "Elêusis" os melhores sonetos do livro. Exatamente os mais gregos e mais sensuais que escreveu o poeta. Com esses e outros sonetos eróticos e gregos, Da Costa e Silva buscava reintegrar-se na linguagem lírica de Camões. O seu recuo no tempo não pára por aí, prolonga-se nos sonetos à maneira de D. Francisco Manuel de Melo("Palimpsestos"), nos  vilancetes ao jeito do século XVI e no inventivo, irônico e lúdico "À Margem de um Pergaminho" um soneto construído com colagens da carta de Pero Vaz de Caminha. 
O quarto livro de Da Costa e Silva, Verônica, foi escrito sob o impacto da perda de sua primeira mulher, Alice, e nos anos de sua magoada viuvez. Nele, não é mais a natureza que procura refletir, mas "a sombra interior" da sua vida. Medita sobre a confluência do amor e da morte. Revê a imagem  da bem-amada a confundir-se com o seu sonho de destino. Nesse livro elegíaco - dos mais sentidos de nossa língua - , a expressão do poeta depura-se ao extremo, chegando ao limite de trabalhos emocionalmente tão intensos e contidos como "As Horas", "O Homem que Volta" e "Sombra e Névoa". A linha de construção poética que vinha de "Saudade" e "Mater, em Sangue,  e que encontrara sua plenitude formal em "Sob Outros Céus", em Pandora, resolve-se em Verônica no alto nível de poesia do pensamento. Todo o livro é uma pungente meditação sobre o amor e o tempo, sobre o coincidir no espírito do afastamento e da permanência. 
O poeta aceita elegiacamente o destino. Antes, procurara espiritualizar a terra, o mundo real, os sertões de Amarante, e continuar a ver-se espelhado no rio Parnaíba. Agora, sem abandonar o sentimento da proximidade da ausência(aguçado pela morte da bem-amada), sabe-se o próprio rio("Sou como um Rio Misterioso...") e oscila entre cantar como poeta ou lastimar a inutilidade da dor humana. Vence o poeta, cuja forma de pensar própria é o canto. Por isso, Verônica não é um livro escuro. O poeta canta a morte da amada. Canta, como artista, a perda e a solidão. E o livro inteiro é uma luminosa elegia de quem aprendeu "muito mais a amar a vida", "porque é o único bem que ainda" lhe "resta". 
A linguagem de Verônica é límpida, concisa e fluida, direta e certeira. O poeta reduz seus meios, economiza imagens, mas sempre no sentido de apurar, contendo, e de aprofundar, pelo desprendimento. Mais do que nunca é um mestre do verso. Ao despojar-se, aguça musicalmente cada linha, valoriza as rimas internas e as rimas toantes, clareia a tristeza com palavras nítidas e concretas, condensa em cada verso emoções e significados múltiplos - e dá um sentido coletivo à sua dor pessoal.  
Da Costa e Silva foi, diante da natureza, panteísta e órfico. Pôde, por isso, passar da paisagem misteriosa e altamente simbólica, presente em Sangue(naquele soneto perfeito que é "Rio das Garças", por exemplo), para a natureza harmoniosa ou agredida de Zodíaco, até chegar à natureza emotiva e pensada de Pandora , à natureza filtrada pela lembrança e que obedece ao canto do poeta. Por um processo de depuração órfica, essa natureza reconstruída pelo pensamento passa , primeiro, a correr  nas veis de Da Costa e Silva; depois , a ser por ele ordenada e comandada; e finalmente exila-se de Verônica, livro no qual o poeta se ausenta do convívio das coisas, fecha os olhos para melhor ver e "espera o sono de amor de uma noite sem termo" 
As visões pânicas e órficas da natureza já se encontravam , contudo, em Zodíaco, naqueles versos finais de "As Árvores"("Tenho um desejo absurdo  de ser nuvem,/ Para dar a vida às árvores que morrem!"). No poema que abre o volume, "A Escalada", Da Costa e Silva oscila entre estar no mundo e imaginá-lo, entre ter o mundo palpável, claro, real, ao seu redor, e transmudá-lo em essência mental, em recriação da inteligência. É neste mundo superior, não por ficar fora da natureza, mas por estar dentro do poeta, que ele vai desaguar em tantos versos de Pandora , até chegar ao refinamento de linguagem, à pureza de expressão, à limpidez de Verônica, livro que é relato de Orfeu em busca de Eurídice, da descida do poeta, a cantar, ao seu Hades. 
Verônica foi a última obra de Da Costa e Silva. Depois dela, publicou na imprensa uma dúzia de poemas - alguns deles com todas as características de trabalhos antigos - antes de silenciar em 1933. No álbum onde foram colados por sua segunda mulher, Creusa, o poeta escreveu, no alto de cada página, a palavra "Alhambra", como a indicar que os reservava para um novo livro, que teria esse título. Todos são obras menores e até de circunstâncias, exceto "Refrão do Trem Noturno"e "O Carrossel Fantasma". Esses dois belos poemas apontam, caso Da Costa e Silva não se tivesse exilado de si mesmo, para uma percurso estético que, depois de Verônica, seria semelhante ao de Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida o do espanhol Juan Ramón Jimenez, que chegaram ao verso moderno a partir de uma prática poética basicamente simbolista, mas mesclada de tentações e recuos parnasianos.  
OBS:Este texto foi retirado da Seleta organizada por Alberto da Costa e Silva, ensaísta, crítico, historiador e poeta, do Livro A Literatura Piauiense em Curso, editada pela Livraria e Editora Corisco Ltda.