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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011



MANDU LADINO


O Heroi Mafrense
 Indio que ousou se rebelar contra o equivocado catolicismo da época 
dos Domingos sanguinários....


Caricatura: Mauro Júnior


Mandu Ladino é o nome do índio. (Isso é lá nome de índio!) Genuinamente brasileiro, como, aliás, eram todos os índios no começo dos 500 anos. Mas este índio – tal de Mandu Ladino – é diferente. Tem história pra contar. Poderia, aliás, ser apenas mais uma história de índios massacrados e dizimados por portugueses ou catequizados por jesuítas em fins do século 17 e começo de 18. Mas não é. Tem história das boas. Foi retratada em 2006 em forma de romance pelo escritor piauiense Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco. O livro mostra, entre um beijo e outro, a história verídica de um curumim (índio criança), manso, adotado pelos jesuítas quando estes, no intuito de catequizar índios Brasil afora, fundaram as tais Missões. Ou Aldeamentos, como insiste o pesquisador Paulo Machado.

Num desses aldeamentos, em Viçosa, localizado na linda Serra da Ibiapaba, que separa o Piauí do Ceará (aquela mesma da Iracema dos lábios de mel de José de Alencar), manduzinho foi capturado e vestido com a camisa de força da Santa Madre Igreja e da oficialidade de El Rei de Portugal. A identidade forjada pela imposição e pela violência. Mandado para outro aldeamento de jesuítas, na Paraíba, Mandu não se dobrou ao repicar dos sinos das Missões. E ao final de sua adolescência foge do mosteiro dos velhos padres. O destino? As terras do Piagohy. Sim, isso mesmo, Piauí, lar doce lar de Mandu. Veio rumo ao Grande Rio, o nosso Parnaíba, chamado pelos historiadores de o Grande Rio dos Tapuias.


Pois bem, da Paraíba até o Piauí, ele percorre uma trilha, sentindo como nunca o gostinho da liberdade. Aquela que, sem nenhum favor, tinha ganho ao nascer. Aí começa a história verdadeira: por onde ia passando, ia aglutinando índios soltos e de várias etnias que encontrava pelo meio do caminho, num processo de convencer esses cara-vermelhas a lutar e expulsar cara-pálidas de suas terras. Virou cacique, liderando batalhas e mais batalhas com percas e mais percas dos dois lados. Nessas alturas dos acontecimentos, entram em cena dois velhos conhecidos da história oficial local: Domingos Afonso Sertão e Domingos Jorge Velho.


Essas duas medonhas criaturas, em troca de imensas glebas de terras em sertões do norte-nordeste, estraçalhavam tribos e mais tribos da imensa nação indígena nativa. Foi o início da chamada “civilização do couro” no Piauí. Mas Mandu não se dobrava nunca e continuava a luta – o bicho era teimoso que só! Incomodava - e como! - a corte portuguesa com suas estratégias e conhecimentos de índio amante da natureza. Conhecia cada detalhe geográfico da fauna, flora e do clima semi-árido da nossa região. E claro que por isso mesmo levava quase sempre vantagem contra um monte de brutamontes armados até os dentes, mas completamente ignorantes quanto ao seu campo de batalha. Tudo isso se encontra devidamente documentado, não como história oficial, claro. Mas juntando os cacos aqui e ali de documentos oficiais dá perfeitamente para montar o quebra cabeça. Tarefa para maluco nenhum botar defeito. Imagine para um monte de malucos.


Mandu, finalmente, foi tombado em 1719, depois de liderar várias revoltas contra os colonos e fazendeiros locais, os novos donos da terra brasilis. O local de sua morte ainda é objeto de estudo desse punhado de malucos, mencionados acima, o qual eu me incluo agora. O fato é que se não tivesse sido morto, teria formado o único país independente do planeta cuja nação seria indígena americana. E esta é toda a beleza da história. Escondida nos anais do tempo, claro! Por ironia do destino, o Piauí hoje é o único estado do Brasil que não possui um único índio sobrevivente.
Marta Teresa Tajra
 
fonte:http://krudu.blogspot.com/2009/02/o-indio-ladino-e-sua-brigada-utopica.html