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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dia do Piauí 2011......

O Piaui é um meio dia prolongado. É um mercado velho, um doce de buriti, uma carne de sol e muito sol na carne. É chupar cana olhando a plantação, cansado. É uma batalha do Jenipapo, uma chuva de caju. É ficar doido só de visitar Oeiras. É ver turista e pensar que é missionário. É ter 2 televisões em casa e não saber assinar o próprio nome. É uma vontade de aparecer no jornal pra ter certeza de que existe quando até livro de geografia ensina pro povo o contrário. É ser filho do sol do equador e pai do homem americano.

O Piauí é uma rua cheia de cadeiras na calçada, uma fila de vizinhos curiosos e falantes, uma família imponente numa casa de azulejos. É um monte de ermo sem eira nem beira. É um campo de futebol de terra batida com o time do bairro e bancos para as meninas. Piauí é Dona Maria de braços abertos e olhos molhados a espera do primo que vem do estrangeiro. É saudade do Rio, de São Paulo, de Brasília e do futuro. É ter que climatizar uma rua, inventar uma praia e ser cheio de idéias para o que fazer no sábado.

É uma casa de taipa que derrete na chuva, é criança chorando com fome, é dengue, é seca, é uma mucura. É onde mais se reclama do calor, mas quando o dia fica bonito pra chover todo mundo corre pra casa. Parece mais fraco que choque de lanterna, mas é a chapada do corisco. É um manguezal de bem-te-vi. É um coqueiro, um cajueiro, um caneleiro e é uma mulher com um vestido vermelho e um colar de opala. Tem cara de capivara criada por Catirina. É uma mambira.

É renda, é palha, é barro. É um festival de cachaça, uma festa junina, um festival de inverno e, vez por outra, um inferno. É um café da manhã com beiju, cuscuz, bolo frito e leite. É talvez ter que dormir junto com o sol e acordar antes dele. Ter medo de onça, cobra, boitatá e de tomar lá onde as patas tomam. Dizem que é terra de macho, mas também tem muita moita! Também dizem que o Piauí é o cu do mundo, mas é só porque ele foi o único estado colonizado pelos fundos. O Piauí tem gosto de gás, talvez por isso pareça com o Iraque. Tem cheiro e cor de cajuína, é uma menina.

Ariane Pirajá

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011



MANDU LADINO


O Heroi Mafrense
 Indio que ousou se rebelar contra o equivocado catolicismo da época 
dos Domingos sanguinários....


Caricatura: Mauro Júnior


Mandu Ladino é o nome do índio. (Isso é lá nome de índio!) Genuinamente brasileiro, como, aliás, eram todos os índios no começo dos 500 anos. Mas este índio – tal de Mandu Ladino – é diferente. Tem história pra contar. Poderia, aliás, ser apenas mais uma história de índios massacrados e dizimados por portugueses ou catequizados por jesuítas em fins do século 17 e começo de 18. Mas não é. Tem história das boas. Foi retratada em 2006 em forma de romance pelo escritor piauiense Anfrísio Neto Lobão Castelo Branco. O livro mostra, entre um beijo e outro, a história verídica de um curumim (índio criança), manso, adotado pelos jesuítas quando estes, no intuito de catequizar índios Brasil afora, fundaram as tais Missões. Ou Aldeamentos, como insiste o pesquisador Paulo Machado.

Num desses aldeamentos, em Viçosa, localizado na linda Serra da Ibiapaba, que separa o Piauí do Ceará (aquela mesma da Iracema dos lábios de mel de José de Alencar), manduzinho foi capturado e vestido com a camisa de força da Santa Madre Igreja e da oficialidade de El Rei de Portugal. A identidade forjada pela imposição e pela violência. Mandado para outro aldeamento de jesuítas, na Paraíba, Mandu não se dobrou ao repicar dos sinos das Missões. E ao final de sua adolescência foge do mosteiro dos velhos padres. O destino? As terras do Piagohy. Sim, isso mesmo, Piauí, lar doce lar de Mandu. Veio rumo ao Grande Rio, o nosso Parnaíba, chamado pelos historiadores de o Grande Rio dos Tapuias.


Pois bem, da Paraíba até o Piauí, ele percorre uma trilha, sentindo como nunca o gostinho da liberdade. Aquela que, sem nenhum favor, tinha ganho ao nascer. Aí começa a história verdadeira: por onde ia passando, ia aglutinando índios soltos e de várias etnias que encontrava pelo meio do caminho, num processo de convencer esses cara-vermelhas a lutar e expulsar cara-pálidas de suas terras. Virou cacique, liderando batalhas e mais batalhas com percas e mais percas dos dois lados. Nessas alturas dos acontecimentos, entram em cena dois velhos conhecidos da história oficial local: Domingos Afonso Sertão e Domingos Jorge Velho.


Essas duas medonhas criaturas, em troca de imensas glebas de terras em sertões do norte-nordeste, estraçalhavam tribos e mais tribos da imensa nação indígena nativa. Foi o início da chamada “civilização do couro” no Piauí. Mas Mandu não se dobrava nunca e continuava a luta – o bicho era teimoso que só! Incomodava - e como! - a corte portuguesa com suas estratégias e conhecimentos de índio amante da natureza. Conhecia cada detalhe geográfico da fauna, flora e do clima semi-árido da nossa região. E claro que por isso mesmo levava quase sempre vantagem contra um monte de brutamontes armados até os dentes, mas completamente ignorantes quanto ao seu campo de batalha. Tudo isso se encontra devidamente documentado, não como história oficial, claro. Mas juntando os cacos aqui e ali de documentos oficiais dá perfeitamente para montar o quebra cabeça. Tarefa para maluco nenhum botar defeito. Imagine para um monte de malucos.


Mandu, finalmente, foi tombado em 1719, depois de liderar várias revoltas contra os colonos e fazendeiros locais, os novos donos da terra brasilis. O local de sua morte ainda é objeto de estudo desse punhado de malucos, mencionados acima, o qual eu me incluo agora. O fato é que se não tivesse sido morto, teria formado o único país independente do planeta cuja nação seria indígena americana. E esta é toda a beleza da história. Escondida nos anais do tempo, claro! Por ironia do destino, o Piauí hoje é o único estado do Brasil que não possui um único índio sobrevivente.
Marta Teresa Tajra
 
fonte:http://krudu.blogspot.com/2009/02/o-indio-ladino-e-sua-brigada-utopica.html




domingo, 23 de janeiro de 2011


Em 1770, muito antes da Princesa Isabel, uma escrava chamada Esperança Garcia, destacou-se pela sua coragem ao redigir uma petição dirigida ao governador da Capitania do Maranhão, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, os maus-tratos sofridos nas mãos de Antônio Vieira de Couto, inspetor de Nazaré, localidade que hoje é o Município de Nazaré do Piauí (PI). Na mais antiga petição escrita por um escravo no Brasil, ela denuncia os maus-tratos sofridos a partir do confisco das fazendas dos jesuítas pela Coroa Portuguesa. Pediu ainda que fosse devolvida à Fazenda Algodões e que sua filha fosse batizada.
Quem foi Esperança Garcia
O Professor Luiz Mott, em memorável entrevista concedida ao “Portal do Sertão”, revela:

“Esperança Garcia foi uma escrava moradora numa das dezenas de fazendas que com a expulsão dos Jesuítas, passaram para a administração governamental, e que em 1770 escreveu uma carta ao Governador do Piauí denunciando os maus-tratos de que era vítima por parte do feitor da fazenda. Salvo erro, é a segunda carta mais antiga até agora conhecida no Brasil manuscrita e assinada por uma escrava negra, e que revela não só os sofrimentos a que estavam condenados os cativos, como o fato de já nos meados do Século XVIII haver mulheres negras alfabetizadas e suficientemente “politizadas” para reivindicar seus direitos e denunciar às autoridades os desmandos de prepostos mais violentos. Além da felicidade de ter descoberto documento tão importante e raro, minha alegria foi maior ainda quando, anos depois, esta negra, até então desconhecida, passou a simbolizar o ideal de liberdade dos negros do Piauí: foi dado o nome de Esperança Garcia a um hospital em Nazaré do Piauí, em Teresina há o Coletivo de Mulheres Negras “Esperança Garcia” e o dia em que ela datou sua carta, 6 de setembro, passou, por lei, a ser comemorado o Dia Estadual da Consciência Negra. Para um historiador é a gloria ter um seu “personagem” ressuscitado e elevado a tantas homenagens dois séculos depois de sua morte”.
Segue abaixo o inteiro teor da carta, escrita em 6 de setembro de 1770:
“Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passom to mal.
A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas enhum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei.
A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar.
Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.De V.Sa. sua escrava EsPeranÇa garcia”
O caso foi estudado no artigo “Uma escrava do Piauí escreve uma carta”, de autoria do historiador e antropólogo Luiz Mott (publicado no Mensário do Arquivo Nacional, nº 5, 1979). Mais informações podem ser obtidas num estudo de Solimar Oliveira Lima.
Para o Prof. Dr. da UESPI/ UFPI, Élio Ferreira de Sousa, que estuda a temática do negro na literatura, “Esperança Garcia é uma exceção, porque era proibida a leitura para escravo; quem fosse flagrado ensinando escravo a ler era preso e/ou processado. Ela escreveu a carta um ano depois que os jesuítas, de quem era escrava, foram expulsos do Brasil por Marquês de Pombal. Esperança Garcia foi levada à força da Fazenda Algodões, perto de Floriano, para uma fazenda em Nazaré do Piauí. Ela conta que juntamente com o filho eram torturados e espancados; que o feitor a peava, como animal, e que uma vez caiu do penhasco e quase morreu, estando amarrada; que foi proibida de batizar o filho e de se confessar, assim como suas amigas. Na condição de escrava, usou a questão da religião como estratégia para que seus opressores fossem punidos, porque a religião oficial era a católica”, ressaltou o pesquisador, acrescentando que era comum nas fazendas locais, os negros fazerem levantes contra os desmandos, já naquela época.

Reproduzo aqui, entrevista concedida ao "Portal do Sertão" pelo professor Luiz Mott, em 10 de junho de 2006 ao repórter Joca Oeiras, o anjo andarilho.


Portal do Sertão: Paulistano de nascimento, mineiro na adolescência, baiano há um quarto
de século", como você mesmo diz. O que o levou a interessar-se, há mais de vinte anos, pelo Piauí Colonial?

Luiz Mott: Formei-me em Ciências Sociais na USP, em plena ditadura militar. Embora tenha me especializado em Antropologia, logo descobri que gostava mais de investigar a vida social no passado, daí ter-me enveredado pela Etno-História, que é um casamento bem sucedido da Antropologia com a Historiografia. Ao realizar minhas primeiras pesquisas sobre a história social do Brasil Colônia nos Arquivos de Portugal, por acaso deparei-me com inúmeros manuscritos interessantíssimos sobre o Piauí Colonial, área que não conhecia mas que se tornou um de meus “xodós” acadêmicos. A descoberta, no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, de um longo documento “ Descrição da Capitania de São José do Piauí”, dos meados do século XVIII, de autoria do Ouvidor Durão, foi fundamental para que me tornasse “piauiólogo”, pois trata-se da mais completa e inteligente descrição setecentista desta Capitania, documento que me serviu de guia para aprofundar a investigação de sua história demográfica e social.


Portal do Sertão: Conte como e onde se desenvolveram as pesquisas. Você esteve muitas vezes no Piauí?

Luiz Mott: Outro fator contribuiu para que me tornasse especialista na etno-história piauiense: tive a felicidade de conhecer o saudoso Prof. Odilon Nunes, (falecido em 1989) que considero o principal historiador desta região, o qual muito me estimulou a prosseguir as investigações, agora também no Arquivo Publico do Piauí, onde então vasculhei grande parte da documentação do período colonial, tendo a felicidade de encontrar muitos documentos inéditos sobre as fazendas de gado dos Jesuítas, sobre a conquista de diversas tribos indígenas, sobre a vida social dos vaqueiros. A partir de então, retornei diversas vezes a Teresina, seja para prosseguir as pesquisas documentais, seja para ministrar conferencias. Em 1985, o Projeto Editorial Petrônio Portela publicou meu livro “Piauí Colonial: População, Economia e Sociedade”, onde reuni cinco artigos divulgados anteriormente em revistas de historia e antropologia. Foi nesta época que realizei pesquisas na Torre do Tombo em Portugal, coletando documentação sobre a atuação do Tribunal da Inquisição nesses sertões, tema até então completamente descurado pela historiografia local.


Portal do Sertão: A descoberta da carta da escrava Esperança Garcia ao governador do Piauí fez com que as pesquisas, de alguma forma, mudassem de rumos?

Luiz Mott: Esperança Garcia foi uma escrava moradora numa das dezenas de fazendas que com a expulsão dos Jesuítas, passaram para a administração governamental, e que em 1770 escreveu uma carta ao Governador do Piauí denunciando os maus-tratos de que era vítima por parte do feitor da fazenda. Salvo erro, é a segunda carta mais antiga até agora conhecida no Brasil manuscrita e assinada por uma escrava negra, e que revela não só os sofrimentos a que estavam condenados os cativos, como o fato de já nos meados do Século XVIII haver mulheres negras alfabetizadas e suficientemente "politizadas" para reivindicar seus direitos e denunciar às autoridades os desmandos de prepostos mais violentos. Além da felicidade de ter descoberto documento tão importante e raro, minha alegria foi maior ainda quando, anos depois, esta negra até então desconhecida passou a simbolizar o ideal de liberdade dos negros do Piauí: foi dado o nome de Esperança Garcia a um hospital em Nazaré do Piauí, em Teresina há o Coletivo de Mulheres Negras “Esperança Garcia” e o dia em que ela datou sua carta, 6 de setembro, passou por lei a ser comemorado o Dia Estadual da Consciência Negra. Para um historiador é a gloria ter um seu "personagem" ressuscitado e elevado a tantas homenagens dois séculos depois de sua morte.



Portal do Sertão: Em suas pesquisas há descobertas sensacionais, como a carta já citada e o saborosíssimo depoimento da mestiça Joana Pereira de Abreu. A que você atribui este resultado? À sorte, ao método ou ao esforço?

Luiz Mott: O ofício de historiador é igual dos antiquários e arqueólogos: a gente vai atrás de pistas, procura aqui, garimpa acolá, e depois de muita labuta, tem a felicidade de se deparar com algumas pérolas preciosas, como esta que achei na Torre do Tombo: Joana Pereira de Abreu era uma escrava mestiça, moradora na Mocha nos meados dos setecentos, protagonista de um dos episódios mais complexos e insólitos da historia religiosa do Brasil Colonial: praticou um ritual diabólico, o famigerado Sabá, reunião orgiástica de feiticeiras com Satanás, ritual medieval muito comum na Europa mas até então nunca documentado na a América Portuguesa. E foi exatamente na Mocha, no Campo dos Enforcados, que ocorreu este “conventículo” de negras e mestiças que socializavam secretamente com um bando de Diabos, exatamente como faziam as bruxas européias perseguidas pela Inquisição. É uma historia de arrepiar os cabelos, riquíssima de informações sobre os costumes sertanejos nas fronteiras do Piauí com Maranhão, artigo que está no prelo para publicação e que certamente vai causar grande “rebu” na historia da vida religiosa do Piauí Colonial.



Portal do Sertão: Você me parece uma pessoa que se dedica intensamente a tudo o que faz, seja à militância gay, seja à vida acadêmica. Como faz para manter tão alto o astral?

Luiz Mott: Acabo de completar 60 anos e receber o título de Cidadão Baiano, o que me honrou muito, pois vivendo há 27 anos em Salvador já era Cidadão Soteropolitano, mas os deputados recusavam me titular devido ao preconceito à minha militância pelos direitos humanos dos homossexuais. Para mim foi uma vitória importantíssima este título, pois prevaleceu o bom senso e a tolerância, considerando que o ser humano deve ser avaliado por seus méritos, qualidades, honestidade, e não por suas preferências amorosas. Sofri muitos preconceitos em minha vida acadêmica e social devido à minha condição de gay militante, mas não me arrependo um só minuto de ter-me assumido, pois para mim, ser homossexual foi uma graça divina! Espero viver muitos anos mais para continuar nessa luta para que se cumpra o ideal sintetizado pelo nosso maior poeta moderno, o bissexual Fernando Pessoa: “O amor que é essencial; o sexo, acidente: pode ser igual, pode ser diferente!”


Portal do Sertão: Oeiras é a chamada "Capital da Fé" no Piauí. Que reação, você imagina, terá o público da sua conferência?

Luiz Mott: Visitarei Oeiras pela primeira vez “ao vivo”, mas a primitiva Mocha é minha velha conhecida, pois há muitos anos estou por dentro de sua historia, dialogo com seus primeiros povoadores, resgatando a conturbada vida de seus moradores, seja brigando com os índios, devastando os sertões à procura do capim mimoso, pelejando com os jesuítas, amedrontando-se com os visitadores do Santo Oficio da Inquisição, realizando calundus e rituais diabólicos. As religiões são dialéticas, evoluem, umas nascem, vicejam, outras declinam, murcham e morrem. As religiões devem ser a escola do amor e da tolerância, do respeito à diversidade, do ecumenismo. Passou o tempo em que a lei era “Roma locuta, causa finita” (Roma falou, acabou a discussão). Vivemos num Estado Laico, onde a censura é proibida, onde a Constituição garante a liberdade religiosa mas também o direito ao ateísmo e ao conhecimento da verdade histórica sobre o passado das crenças religiosas. Passou-se o tempo que os hereges eram apedrejados! A verdade pode doer, pode chocar, mas a mentira é a mãe de todos os erros! E a mentira tem um pai: o Diabo do Campo dos Enforcados!

A CARTA

"Eu sou hua escrava de V. Sa. administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido, para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal.
A primeira hé q. ha grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de Ds. esCapei.
A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres annos. E huã criança minha e duas mais por batizar.
Pello q. Peço a V.S. pello amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido e batizar minha filha q.
De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”

Sites consultados:                  

www.overmundo.com.br/
oeiras_brasil.blogs.sapo.pt/1222.html
www.paginalegal.com/categoria/documentos-historicos/
www.revistadehistoria.com.br/v2/home/?go=detalhe&id=660&pagina=7