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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Por Adrião Neto 


Cláudio Bastos formou-se em Administração Pública e em Sociologia e Política. Foi professor universitário, pesquisador, escritor e jornalista. Lecionou nos cursos de pós-graduação da Faculdade de Ciências Gerenciais da Universidade de Negócios e Administração, em Belo Horizonte. Era membro do Instituto Genealógico Brasileiro, do Colégio Brasileiro de Genealogia, da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia, da Sociedade Genealógica Judaica do Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba.

Dentre as sua obras destacam-se o “Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí”, editado em 1994, pela Fundação Cultural Mons.  


Em 23 de agosto de 2004, no dia em que comemorava 69 anos de existência, o pesquisador piauiense Cláudio de Albuquerque Bastos, foi vítima de um enfarto fulminante. Ele era teresinense, mas vivia há muitos anos na capital mineira, onde estudou, constituiu família e desenvolvia as suas atividades profissionais.
 

 PIAUÍ – SUA HISTÓRIA E SEUS HISTORIADORES


Por Adrião Neto

Comentários de medalhões da intelectualidade piauiense dão conta de que determinada obra sobre um dos principais episódios da História do Piauí, publicada por uma grande editora, seria superficial e uma das mais fracas do gênero, simplesmente pelo fato de ter sido elaborada por um escritor sem formação acadêmica na área de História.

Refletindo sobre essas críticas e sobre a censura de que o autor da obra em foco teria invadido uma seara proibida, infringindo assim os Sagrados Mandamentos da Lei de CLIO (Deus da História), resolvi fazer um levantamento sobre o acervo historiográfico do Piauí e sobre a formação acadêmicas dos nossos historiadores.

Pelas pesquisas que realizei ficou constatado que uma coisa não tem relação com a outra, vez que, as principais obras do nosso acervo historiográfico e outras de relativa importância, incluindo-se também algumas de cunho municipalista, foram legadas por escritores de outras áreas do conhecimento e até mesmo por autores sem formação acadêmica, como é o caso do mestre Odilon Nunes, que é considerado como o maior historiador do Piauí de todos os tempos.

Se realmente para se dedicar a um gênero literário fosse necessário ter formação específica, haveria a necessidade de se ter cursos de graduação em romance, conto, crônica, poesia, etc.

Por outro lado, se, por um passo de mágica a contribuição dos historiadores de outras áreas do conhecimento fosse deletada dos livros, e se a historiografia do Piauí contasse apenas com a produção dos historiadores formados em História, o nosso acervo historiográfico não passaria de um grão de areia no meio do deserto.

Como prova de que, o que afirmei no terceiro parágrafo não é história para boi dormir, transcrevo uma relação de autores acompanhada da formação acadêmica de cada um deles e de suas respectivas obras no campo da historiografia.

Autores sem formação acadêmica na área de História e suas respectivas obras:

Abdias Neves – Bacharel em Direito, autor de: "O Piauí na Confederação do Equador"; "Contribuições para a História do Piauí"; "Aspectos do Piauí"; "O Piauí nas Lutas de 1824" e "A Guerra de Fidié".

Alcides Martins Nunes – Formado em Direito, autor de: "Cronologia Histórica de Valença" e "Anuário de Valença do Piauí", coautoria.

Anísio Brito – Formado em Odontologia, autor de: "Contribuição do Piauí à Guerra do Paraguai"; "O Município Piauiense"; "A Quem Pertence a Prioridade Histórica do Descobrimento do Piauí?"; "Adesão do Piauí à Confederação do Equador"; "Independência do Piauí"; "Os Balaios no Piauí" e "Fazendas Nacionais no Piauí".

Antônio José de Moraes Durão – Formado em Direito, autor da "Descrição da Capitania de São José do Piauí", escrito em l772.

Antônio Reinaldo Soares Filho – Geólogo, autor de: “Oeiras Municipal”.

Antônio Sampaio Pereira – Sem formação acadêmica, autor de: "Esperantina à Luz da História".

Arimatéa Tito Filho – Bacharel em Direito, autor de: "O Piauí no Congresso Nacional"; "Governos do Piauí";"Sua Excelência O Egrégio"; "A Augusta Casa do Piauí"; "Praça Aquidabã, Sem Número"; "Teresina, Ruas, Praças e Avenidas - Roteiro Turístico"; "A Igreja do Alto da Jurubeba"; "José de Freitas, Comunidade Exemplar" e "Memorial da Cidade Verde".

Artur Passos – Sem formação universitária, autor de: "História do Município"; "Roteiro Histórico do Município de Guadalupe" e "História, Economia e Lendas".

Barbosa Lima Sobrinho – Formado em Direito, autor de: "O Devassamento do Piauí".

Benjamin de Moura Batista – Formado em Medicina, autor de: “O Piauí - 1762 a 1920” e “O Piauí no Centenário de Sua Independência”, 4 volumes.

Celso Pinheiro Filho – Formado em Direito, autor de: “História da Imprensa Piauiense”.

Caio Passos – Sem formação universitária, autor de: “Parnaíba – Cada Rua Sua História”.

Carlos Eugênio Porto – Médico, autor de: "Roteiro do Piauí".

Mons. Chaves – Licenciado em Filosofia, tem cursos de Teologia, Escritura Sagrada e Direito Canônico, autor de: “Teresina Subsídios para a História do Piauí”; “O Índio no Solo Piauiense”; “Campo Maior – Lutas pela Independência” (Batalha do Jenipapo); “A Escravidão no Piauí”; “O Piauí na Guerra do Paraguai”; “O Piauí nas Lutas da Independência” e “Como Nasceu Teresina”.

Cláudio Bastos – Bacharel em Administração Pública, em Sociologia e Política, autor do “Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí”.

Pe. Cláudio Melo – Formado em Teologia e Filosofia, tem Doutorado em Sociologia, autor de: "O Piauí, Realidade e Perspectivas de Desenvolvimento"; "A Pobreza Piauiense"; "Os Primórdios de Nossa História"; "A Prioridade do Norte no Povoamento do Piauí"; "Bernardo de Carvalho"; "Os Jesuítas no Piauí" (1992) e "Novas Aventuras de uma Sesmaria".

Cléa Rezende Neves de Melo – Licenciada em Língua Portuguesa e Espanhola e suas Literaturas, Pós-graduada em Filologia Hispânica e em Língua Portuguesa, autora de: “Memórias de Piripiri”.

Clodoaldo Freitas – Formado em Direito, autor de: “História do Piauí”; “Vultos Piauienses” e História de Teresina.

F. A. Pereira da Costa – Bacharel em Direito, autor da: “Cronologia Histórica do Estado do Piauí”.

Herculano Moraes – Sem formação universitária, autor de: “Memorial do Judiciário – Roteiro para a História do Tribunal de Justiça do Estado do Piauí” e "Visão Histórica da Literatura Piauiense".

Higino Cunha – Advogado, autor de: "O Teatro em Teresina"; "História das Religiões no Piauí"; “Os Revolucionários no Sul do Brasil” e “A Revolução de 1930 no Piauí”.

Joel Genuíno de Oliveira – Sem formação universitária, autor de “Governos do Piauí” e “O Piauí no Congresso Nacional”. Colaborou com os principais jornais de Teresina, onde, diariamente publicava a nota “Atos e Fatos da História do Piauí”.

João Gabriel Baptista – Engenheiro Civil, autor de: Etnohistória Indígena Piauiense; Corográfico do Estado do Piauí” e “Mapas Geo-Históricos do Piauí”.

José Alves Fortes Filho – Sem formação universitária, autor de: “Adesão do Piauí à Independência do Brasil”, opúsculo e “Teresina, de Saraiva a Heráclito”, opúsculo.

José Camilo da Silveira Filho – Bacharel em Direito, autor de: "Breve Introdução ao Estudo Piauiense"; "Rebelião de Pinto Madeira e o Piauí"; "O Cochrane das Caatingas"; "O Piauí na II Guerra Mundial" e "O Piauí na Guerra dos Canudos".

José Martins Pereira de Alencastre – Profissional da área do Direito, autor de: “Memória Cronológica, Histórica e Corográfica da Província do Piauí” e “Estudos Históricos, Notas Diárias sobre a Revolta nas Províncias do Maranhão, Piauí e Ceará.

José Mendes de Sousa Moura – Engenheiro Civil, autor de “Simplício Mendes – História e Notáveis”.

José Omar Araújo Brasil – Sem formação acadêmica, autor de: “Batalha do Jenipapo – Síntese da História 179 Anos - 1823-2002”.

Judith Santana – Sem formação acadêmica, autora de: "Piripiri" e "Parnaíba".

Júlio Romão da Silva – Sem formação universitária, autor de: "Memória Histórica Sobre a Transferência da Capital do Piauí".

Luiz Mott – Licenciado em Ciências Sociais, tem Mestrado em Etnologia e Doutorado em Antropologia, autor de: "Piauí Colonial – população, economia e sociedade".

Maria da Penha Fontes e Silva – Sem formação universitária, autora de: "Piauí - Estudos Regionais do 2º grau", coautoria.

Pe. Miguel de Carvalho – De formação estritamente religiosa, autor da “Descrição do Sertão do Piauí”, escrita em 1697.

Miguel de Sousa Borges Leal Castelo Branco (II) – Profissional da área do Magistério e do Direito, autor de: “Apontamentos para a Sinopse da Província do Piauí”. Fundou o Almanaque Piauiense, onde publicou uma série de documentos históricos sobre a Província.

Moisés Castelo Branco Filho – Engenheiro Geográfico, autor de: “História da Revolução no Piauí”; “Povoamento do Piauí”; “História do Comércio de Teresina”; “História de Uma Bandeira - Desbravamento do Piauí”; “Guerra da Independência no Piauí”; “História da Cidade”; “O Piauí na História Militar do Brasil”; “Depoimento para a História da Revolução no Piauí, período revolucionário: 1922-1931” e “A Família Rural do Piauí”.

Nasi Castro – Sem formação universitária, autora de: “Amarante - Um Pouco da História e da Vida da Cidade” e “Amarante, Folclore e Memória”.

Odilon Nunes – Sem formação universitária, autor de: "O Piauí na História"; "Súmula de História do Piauí"; "Pesquisas para a História do Piauí", 4 volumes; “Apontamentos Históricos”; "Economia e Finanças"; “Piauí Colonial”; “Geografia e História do Piauí”; "Os Primeiros Currais"; "Devassamento e Conquista do Piauí"; "O Piauí, seu Povoamento e seu Desenvolvimento"; "Estudos da História do Piauí"; “A Origem das Fazendas Estaduais”; “Domingos Jorge Velho e o Assentamento das Bases Econômicas do Piauí”; “Um Desafio da Historiografia do Brasil” e "Raízes do Terceiro Mundo".

Patrício Franco – Sem formação acadêmica, autor de: “Capítulos da História do Piauí”; “O Município no Piauí”; “História do Banco do Estado do Piauí” e “Uruçuí: Sua História, Sua Gente”.

Paulo Machado – Bacharel em Direito, autor de: As Trilhas da Morte.

R. N. Monteiro de Santana – Bacharel em Direito, autor de: "Perspectiva Histórica do Piauí" e "Evolução Histórica da Economia Piauiense". Organizou o livro “Piauí: Formação - Desenvolvimento - Perspectivas”.

Reginaldo Gonçalves de Lima – Formado em Contabilidade e em Administração de Empresas, autor de: "Geração Campo Maior - anotações para uma enciclopédia".

Reginaldo Miranda – Bacharel em Direito, autor de: “Piauí em Foco”; Bertolinia: História, Meio e Homem”; “Cronologia Histórica do Município de Regeneração” e Aldeamento dos Acoroás”.

Renato Castelo Branco – Bacharel em Direito, autor de: “A Civilização do Couro”; “O Homem, Escravo e Senhor”; “A Conquista dos Sertões de Dentro”; “Senhores e Escravos (A Balaiada)”; “Domingos Jorge Velho e a Presença Paulista no Nordeste” e “A Guerra do Fidié”.

Renato Neves Marques – Sem formação acadêmica, autor de: “19 de Outubro – O Dia do Piauí” e de vários ensaios históricos dentre os quais: “O Apostolado dos Tremembés” e “Nossa Senhora do Monte Serrate, a Padroeira da Vila da Parnaíba”.

Sebastião Martins de Araújo Costa – Formado em Medicina, autor de: “História do Piauí” e “Fundação de Jerumenha”.

Socorro Santana – Sem formação acadêmica, autora de: "Terra de Bruenque".

Toni Rodrigues - Profissional da área de comunicação, ator de: "História de Altos".

Wilson Brandão – Formado em Direito, autor de: “História da Independência do Piauí” e “A Balaiada - Aspectos Sociais e Políticos (Piauí)”.

Wilson Carvalho Gonçalves – Farmacêutico, autor de: “Terra dos Governadores”; “Os Homens que Governaram o Piauí”; “Teresina - Pesquisas Históricas”; “Dicionário Histórico-Biográfico Piauiense”; “Vultos da História de Barras”; “Roteiro Cronológico da História do Piauí”; “Grande Dicionário Histórico-Biográfico Piauiense” e “Dicionário Enciclopédico Ilustrado Piauiense”.

William Palha Dias – Formado em Direito, autor de: “Piauí, Ontem e Hoje”; “O Piauí em Estudos Sociais”; “Caracol na História do Piauí” e “São Raimundo Nonato de Distrito-Freguesia a Vila”.

Zózimo Tavares – Formado em Jornalismo e Letras, Pós-Graduado em Comunicação e Marketing e Mestrando em Linguistica, autor de: “100 Fatos do Piauí no Século 20”.


Obras consultadas:

1) Dicionário Biográfico Virtual de Escritores Piauienses, de Adrião Neto.
2) Dicionário Enciclopédico Piauiense Ilustrado, de Wilson Carvalho Gonçalves.
3) Dicionário Histórico e Geográfico do Estado do Piauí, de Cláudio Bastos. 


Adrião Neto – Dicionarista biográfico, historiador, poeta e romancista, autor do livro “Geografia e História do Piauí para Estudantes – Da Pré-História à Atualidade”. 


fonte www.meionorte.com 


segunda-feira, 7 de junho de 2010




Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina, Piauí, em 09 de Novembro de 1944. Filho de promotor público e professora primária, estudou no mesmo colégio que Gilberto Gil, em Salvador, tornando-se amigo do compositor e conhecendo também os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia.
Em 1962 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou um curso de Jornalismo. Sem o diploma, começou a exercer a profissão em diversos jornais cariocas. 
Foi um dos mentores intelectuais do movimento tropicalista, participou da famosa capa do LP Tropicália ou Panis et Circenses (sentado ao lado de Gal Costa) - nesse disco estão incluídas duas de suas composições: Mamãe, Coragem e Geléia Geral (considerada o verdadeiro manifesto tropicalista).
Um dia após completar 28 anos de idade, ligou o gás do banheiro e suicidou-se. Deixou um bilhete: "Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar"
Era 10 de novembro de 1972 - e o Brasil perdia um de seus maiores e mais geniais poetas.


  Torquatália: do Lado de Dentro: Obra Reunida de Torquato Neto - Vol. 1
Torquatália: Geléia Geral: Obra Reunida de Torquato Neto - Vol. 2
Pra Mim Chega: a Biografia de Torquato
Torquato Neto: uma poética de estilhaços
A coisa mais linda que existe
Ai de mim, Copacabana
Cogito
Começar pelo recomeço
Dente no dente
Destino
Domingou
Geléia geral
Go back Letra Cifrada Para 
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Let's play that
Louvação
Mamãe, coragem Para 
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Marginália II
Minha senhora Para 
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Pra dizer adeus Letra Cifrada
Rancho da rosa encarnada

http://www.torquatoneto.com.br/   site completo sobre torquato....




     

sexta-feira, 4 de junho de 2010


A Obra
O primeiro livro de Da Costa e Silva, Sangue, é uma obra evidente ortodoxia simbolista. Pelos temas, pelo vocabulário, pelas imagens, pela construção dos versos e pela musicalidade. Mas já revelava um poeta de dicção própria, personalíssima. Sem afastar-se dos cânones da escola, tal como difundida no Brasil por Cruz e Sousa, predomina em Sangue  -  escrito entre 1902 e 1908 - uma linguagem luminosa, arrebatada e forte um poeta que não esconde a sua sensualidade nem o entusiasmo diante da vida. Sangue, sendo um livro simbolista, "revela um artista curioso por outras possibilidades expressivas" - como observou Darcy Damasceno. "Se a temática o prende aos moldes grupais, não chega a levá-lo à cega subordinação; ao contrário, limita-se ele a alguns tópicos de tratamento universal, como a solidão, o infortúnio, o sonho, a contemplação" Simbolista, "evita a exageração cultista, o rebuscamento gratuito". Escrevendo sob a ascendência do pensamento monista e fenomenista(que agitava o ambiente cultural do Recife de seu tempo e que tanto marcou Da Costa e Silva, Augusto Dos Anjos, Carlos D.Fernandes e outros poetas da época, fazendo com que coincidam tantos de seus temas e de suas metáforas), transforma o que poderia ter sido um cientificismo raso na riqueza expressivas do "Cântico do Sangue", com sua fluidez musical e seu colorido vocálico. Em alguns sonetos("Satã Moderno" e "Ódio Bendito) por exemplo), Da costa e Silva parece dialogar com Baudelaire - e já se disse que todo grande poeta responde a outros poetas que o antecederam. Em um poema em forma de losango, "Madrigal de um louco" ressuscita o carmem figuratum. Em vários outros, experimenta e inova, ao aplicar(como em "Deusa Pagã) os símbolos e as inovações do catolicismo a cantares de extrema sensualidade, ao valorizar as surpresas de certos rejetes ou enjambements habilíssimo("Pureza Obscura"e Tântalo do Infinito"), ao transformar a música do verso, em visão plástica(em sonetos tão diferentes quanto "Ironia Eterna", "Rio das Garças" e "Depois da Luta"), ao unir o vocabulário coloquial ao sermo nobilis simbolista(como em "Canto do Bêbado" e "Josafat").
 Nessa obra de estréia, em que a mulher é o grande tema - e é um grande poeta do amor e da carne no amor o Da Costa e Silva de Sangue (e também o de Pandora)  - , já surgem três outros motivos que continuaram a aparecer, entrelaçados ou isolados, em todo o percurso do amarantino: o sentimento do amor materno; o apego à terra natal; e a identificação do poeta com o rio Parnaíba. O tipo de linguagem inaugurado em Sangue, no tratamento desses temas, não se alterará no itinerário dacostiano. Notam-se apenas, de "Mater"(em Sangue) a "Mater Admirabilis"(em Verônica), de "Saudade"(em Sangue) a "O Carrossel Fantasma"(em Alhambra), de o "Rio das Garças" (em Sangue) a "Sob Outros Céus"( em Pandora) um constante clarear e aprofundamento da expressão, mais direta e mais tensa de poema pra poema - o que não se verifica, porém, no confronto de "Saudade", perfeito e completo na concisão de seus 14 versos, com a derramada e comovente confissão de "O Carrossel Fantasma".
O Segundo livro de Da Costa e Silva, Zodíaco, é também uma obra simbolista. Não é um recuo para o parnasianismo, como escreveram alguns críticos, mas um avanço a um outro tipo de simbolismo, distinto do que se praticava no Brasil, mas fazia a glória de Verhaeren e de outros poetas belgas. Quem bem percebeu isso  foi um comentarista arguto, conhecedor profundo das literaturas européias, Willy Lewin, que, 33 anos depois do lançamento de Zodíaco, o considerou um "exemplar apurado da lição simbolista européia - música entre brados sonoros". Oswaldiano Marques recusa porém essa qualificação e prefere considerar Da Costa e Silva, a partir de Zodíaco, como nosso primeiro poeta impressionista.
Zodíaco era em tudo um livro ambicioso e inovador. Não era uma simples coletânea de versos. Ainda mais que os outros volumes de Da Costa e Silva, é um livro que fala como livro. Cada um de seus poemas vale como poema e como parte de um todo - ou até mesmo de um único poema, formado de fragmentos simétricos. Composto entre 1909 e 1915, era o cumprimento de um ambicioso projeto de descrever a máquina da natureza. Descendia dos sonetos piauienses de Sangue (como "Saudade" e Rio das Garças") e deriva do desejo de Da Costa e Silva de trazer para junto de si, na distância e no exílio, as  paisagens, os fenômenos naturais e os trabalhos dos homens de sua terra natal. Isso explica o lugar especial que têm, nessa espécie de reconstrução verbal da natureza, os sonetos que englobou sob o título de "Minha Terra. Amarante - parece dizer-nos o poeta - foi o seu ponto de partida para o conhecimento poético do mundo e é em torno de sua paisagem que se movem a realidade e o sonho.
 Da Costa e Silva jamais se desprendeu do Piauí. E confessaria mais tarde, num momento de crise e desencanto, a Esmaragdo de Freitas: "A nostalgia de minha terra vem-me, quando em vez, numa toada de reza. E tenho a idéia de revê-la, com a vontade de Anteu: experimenta a vista no estirão do rio, penetrar os pulmões do eflúvios da mata e ouvir, a mão em concha, o mugido dos bois..."
O poema de abertura de Zodíaco anuncia o vôo do projeto.E o livro tem todas as marcas de uma obra pensada e integrada. Nesse e em muitos outros aspectos - o verso livre ou polimétrico e a riqueza de seus efeitos sonoros, o sentimento real da paisagem e a preocupação com os efeitos destrutivos da atividade humana(nítida em poemas pioneiramente ecológicos como a "A queimada" , "A derrubada" e o soneto II de "Sub Tegmine...") - Zodíaco é um importante marco na história da poesia brasileira. 
O gosto pelas aliterações, onomatopéias e paronomásias; a capacidade de jogar com os elementos visuais, musicais e semânticos da palavra e do verso; as invenções rítmicas e a fluidez dos versos livres; as surpresas de certas rimas("encanta-nos" e "pântanos", por exemplo); o sábio emprego das repetições, dos ecos, das rimas internas e das dissonâncias - tudo isso mostra o grande artista capaz de domar a inspiração e prestabelecer os rumos do que vai compor. Os poemas longos de Zodíaco são escritos como para orquestra e grande coro. "Mais parecem" - para usar as expressões de Osório Borba - "trechos de música, na sua missão sutilíssima de reproduzir os diversos ruídos do mundo". Em outros poemas - sobretudo nos sonetos sobre animais("O Caramujo", "A lagartixa", "O Sapo", "A Cobra", "A Aranha" e "O Besouro" - logra Da Costa e Silva oferecer uma representação vocabular dos contornos, volumes e movimentos da natureza viva. 
Quando Zodíaco entrava no prelo, Da Costa e Silva foi a um jornal levar um artigo. Lá soube, por um telegrama de Bruxelas, da morte, sob um trem, de Emile Verhaeren. Comovido, Da Costa e Silva sentou-se e escreveu, de um jato, o belíssimo poema " Verhaeren", em cujo texto usa versos e imagens do homenageado, inaugurando assim uma forma de canto de louvor que seria mais tarde utilizada por outros poetas.
 Boa parte dos poemas que formam Pandora, o terceiro livro de Da Costa e Silva, foi escrita ao mesmo que Zodíaco. Se este é obra do poeta experimental, aquele responde com um sim às seduções do parnasianismo. Antes de mais nada, porém, Pandora  nasce de um convívio intenso e íntimo com o Quinhentismo e Seiscentismo literários e com raízes clássicas de nossa cultura. É uma obra que nos reaproxima do espírito grego e, pela consciência do que é clássico, nos devolve os temas de Sangue, serenizados  e aprofundados. Como escreveu Tristão de Athayde, "O autor do Zodíaco,  a Grécia ensinou o caminho da beleza, para que a procurasse em si mesmo". Em si mesmo e no rio Parnaíba, que continua a tocá-lo fundamente e a explicar-lhe a vida( como se vê no admirável soneto IV de "Sob os Outros Céus"); em si mesmo e na amorosa saudade de sua mãe("Sombra de Ouro", "Mater Veneranda") e de sua cidade natal( "Sob Outros Céus"). 
Em Pandora convivem e se interpretam, em perfeita harmonia, os temas da Grécia mítica e da infância perdida, o poeta como que enlaçado as duas nostalgias, as duas idades de ouro. Se diz ser "um grego inatual"("Paganismo"), confessa, sem mudar de tom ou de vocabulário, ter vindo"ao mundo para ter saudade"("Sob Outros Céus"). A Grécia faz-se símbolo de uma idealização do passado e pouco falta para que se situe, na geografia espiritual de Da Costa e Silva, "sob o límpido céu, ao sol radiante,/entre os rios, as árvores e a serra", em que "braquejava a casaria de Amarante". 
João Ribeiro considerava "Elêusis" os melhores sonetos do livro. Exatamente os mais gregos e mais sensuais que escreveu o poeta. Com esses e outros sonetos eróticos e gregos, Da Costa e Silva buscava reintegrar-se na linguagem lírica de Camões. O seu recuo no tempo não pára por aí, prolonga-se nos sonetos à maneira de D. Francisco Manuel de Melo("Palimpsestos"), nos  vilancetes ao jeito do século XVI e no inventivo, irônico e lúdico "À Margem de um Pergaminho" um soneto construído com colagens da carta de Pero Vaz de Caminha. 
O quarto livro de Da Costa e Silva, Verônica, foi escrito sob o impacto da perda de sua primeira mulher, Alice, e nos anos de sua magoada viuvez. Nele, não é mais a natureza que procura refletir, mas "a sombra interior" da sua vida. Medita sobre a confluência do amor e da morte. Revê a imagem  da bem-amada a confundir-se com o seu sonho de destino. Nesse livro elegíaco - dos mais sentidos de nossa língua - , a expressão do poeta depura-se ao extremo, chegando ao limite de trabalhos emocionalmente tão intensos e contidos como "As Horas", "O Homem que Volta" e "Sombra e Névoa". A linha de construção poética que vinha de "Saudade" e "Mater, em Sangue,  e que encontrara sua plenitude formal em "Sob Outros Céus", em Pandora, resolve-se em Verônica no alto nível de poesia do pensamento. Todo o livro é uma pungente meditação sobre o amor e o tempo, sobre o coincidir no espírito do afastamento e da permanência. 
O poeta aceita elegiacamente o destino. Antes, procurara espiritualizar a terra, o mundo real, os sertões de Amarante, e continuar a ver-se espelhado no rio Parnaíba. Agora, sem abandonar o sentimento da proximidade da ausência(aguçado pela morte da bem-amada), sabe-se o próprio rio("Sou como um Rio Misterioso...") e oscila entre cantar como poeta ou lastimar a inutilidade da dor humana. Vence o poeta, cuja forma de pensar própria é o canto. Por isso, Verônica não é um livro escuro. O poeta canta a morte da amada. Canta, como artista, a perda e a solidão. E o livro inteiro é uma luminosa elegia de quem aprendeu "muito mais a amar a vida", "porque é o único bem que ainda" lhe "resta". 
A linguagem de Verônica é límpida, concisa e fluida, direta e certeira. O poeta reduz seus meios, economiza imagens, mas sempre no sentido de apurar, contendo, e de aprofundar, pelo desprendimento. Mais do que nunca é um mestre do verso. Ao despojar-se, aguça musicalmente cada linha, valoriza as rimas internas e as rimas toantes, clareia a tristeza com palavras nítidas e concretas, condensa em cada verso emoções e significados múltiplos - e dá um sentido coletivo à sua dor pessoal.  
Da Costa e Silva foi, diante da natureza, panteísta e órfico. Pôde, por isso, passar da paisagem misteriosa e altamente simbólica, presente em Sangue(naquele soneto perfeito que é "Rio das Garças", por exemplo), para a natureza harmoniosa ou agredida de Zodíaco, até chegar à natureza emotiva e pensada de Pandora , à natureza filtrada pela lembrança e que obedece ao canto do poeta. Por um processo de depuração órfica, essa natureza reconstruída pelo pensamento passa , primeiro, a correr  nas veis de Da Costa e Silva; depois , a ser por ele ordenada e comandada; e finalmente exila-se de Verônica, livro no qual o poeta se ausenta do convívio das coisas, fecha os olhos para melhor ver e "espera o sono de amor de uma noite sem termo" 
As visões pânicas e órficas da natureza já se encontravam , contudo, em Zodíaco, naqueles versos finais de "As Árvores"("Tenho um desejo absurdo  de ser nuvem,/ Para dar a vida às árvores que morrem!"). No poema que abre o volume, "A Escalada", Da Costa e Silva oscila entre estar no mundo e imaginá-lo, entre ter o mundo palpável, claro, real, ao seu redor, e transmudá-lo em essência mental, em recriação da inteligência. É neste mundo superior, não por ficar fora da natureza, mas por estar dentro do poeta, que ele vai desaguar em tantos versos de Pandora , até chegar ao refinamento de linguagem, à pureza de expressão, à limpidez de Verônica, livro que é relato de Orfeu em busca de Eurídice, da descida do poeta, a cantar, ao seu Hades. 
Verônica foi a última obra de Da Costa e Silva. Depois dela, publicou na imprensa uma dúzia de poemas - alguns deles com todas as características de trabalhos antigos - antes de silenciar em 1933. No álbum onde foram colados por sua segunda mulher, Creusa, o poeta escreveu, no alto de cada página, a palavra "Alhambra", como a indicar que os reservava para um novo livro, que teria esse título. Todos são obras menores e até de circunstâncias, exceto "Refrão do Trem Noturno"e "O Carrossel Fantasma". Esses dois belos poemas apontam, caso Da Costa e Silva não se tivesse exilado de si mesmo, para uma percurso estético que, depois de Verônica, seria semelhante ao de Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida o do espanhol Juan Ramón Jimenez, que chegaram ao verso moderno a partir de uma prática poética basicamente simbolista, mas mesclada de tentações e recuos parnasianos.  
OBS:Este texto foi retirado da Seleta organizada por Alberto da Costa e Silva, ensaísta, crítico, historiador e poeta, do Livro A Literatura Piauiense em Curso, editada pela Livraria e Editora Corisco Ltda. 







Beira rio beira vida é o primeiro livro da série intitulada "Tetralogia piauiense", projeto literário do escritor piauiense Assis Brasil. As obras são ambientadas na cidade de Parnaíba, no período da primeira metade do século XX.

A obra põe em evidência os moradores e trabalhadores do cais: canoeiros, embarcadiços, estivadores, prostitutas, enfim o lumpemproletariado na hostil submissão à deidade-mercadoria. No livro, a prostituição marca gerações de mulheres, que, sufocadas pelo sistema, concebem-na como sina, uma maldição para a qual restava apenas a subserviência.

Para o entendimento da obra, começaremos com uma rápida reflexão sobre o título: Beira Rio (o porto, o contínuo movimento do rio que traz e leva esperanças, marinheiros, desilusões); Beira Vida (a marginalização social).

Essa marginalização é o tema predominante. A pobreza, o preconceito e a falta de oportunidades acabam por balizar o destino das personagens. Isto fica bem evidenciado em:

(...) Nunca conheci outra vida, tudo foi se ajeitando normalmente, acontecendo, acontecendo.
Tudo parecia natural para mim, não era de pensar muito.(...)


Em Beira rio beira vida, lancinantes reminiscências atravessam a trama, memórias vão grassando formas estéticas aos episódios, cuja narração remete à agitada rotina do cais de Parnaíba. A vida ribeirinha mobilizada pelas embarcações matiza gerações de marinheiros, canoeiros, barqueiros, taifeiros, enfim de todos os que têm suas trajetórias proliferadas em meio à agitação das águas, dos passos, dos gritos. Meretrizes se arranjavam pelas proximidades, dada a concentração da população masculina.

A ênfase da narração recai sobre a temática da prostituição em dois enfoques, especialmente: um exógeno, que fica a cargo do narrador impessoal de primeira instância; e outro endógeno, sob o comando da personagem Luíza, que vai tecendo a narrativa segundo a fruição de suas memórias.

Como veremos mais adiante, Luíza advém de uma tradição de mulheres do cais estigmatizadas pela prática do “comércio da carne”.

Adentrou o universo da prostituição como quem cumpre uma sina – a vida da avó, da mãe, uma maldição que se repetia nela. Cremilda, sua mãe, ouviu de uma antepassada que uma mulher havia sido presa, acusada de assassinar o amante, um rapaz rico por quem se apaixonara. Inconformada por pagar por um crime que não cometera, gritava e maldizia a tudo e a todos ao longo das noites na cela, submersa em uma revolta implacável. Ao dar a luz, amaldiçoou a filha e toda a sua descendência: “teria uma filha que pegaria barriga de marinheiro, e a filha de sua filha pegaria barriga de marinheiro”.

Embora o autor permita à personagem Luíza os discursos memorialísticos dos quais brotam a narrativa, a vida social do cais é a base espacial sob a qual o enredo é engendrado: “A sineta dos navios-gaiola, o apito mais grosso de uma barca, o grito dos canoeiros, o barulho seco do arroz e feijão pisados no cais, pareciam varrer com a brisa a calçada escura, cheia de lembranças”.

Uma vez que não apresenta ordem cronológica dos fatos, o romance se apóia no tempo da memória para dar coerência à narrativa, ou seja, apóia-se na maneira que o narrador relembra o próprio passado de uma maneira específica, com recortes específicos, num período de tempo específico. Nesse caso, o tempo da memória citado quer dizer um tempo sem qualquer coerência externa à mente do narrador. A beleza reside justamente nas características particulares do ato de lembrar, praticado no romance por Luíza: falhas, idas e vindas no tempo, a escolha de determinadas emoções e sensações. Utilizando como recurso estilístico a repetição constante de falas e ações, o autor consegue enfatizar a mesmice dos dias e a estagnação das personagens. As horas passam devagar e se tornam um fardo para aqueles que não têm rumo certo ou esperança de transformação. As mulheres do cais, especialmente, percebem o tempo de forma diversa. Para elas, os dias não são determinados pelo calendário, mas sim pela presença dos homens nas suas camas: Os homens deixaram a casa um a um – foram desaparecendo em silêncio. Contava a passagem dos anos pela freqüência deles. A figura masculina vem ressaltar a situação de dependência em que elas se encontram e a falta de controle sobre seus próprios destinos. Os retratos dos ‘clientes’ nas paredes de Cremilda são a prova de que também na realidade ficcional, as personagens só conhecem o tempo da memória e vivem das glórias da juventude e dos feitos de outrora.

Se o tempo pesa e seus efeitos não podem ser ignorados, o espaço não é diferente. A cidade de Parnaíba, especialmente o cais, exerce forte atração sobre os habitantes, não permitindo que se afastem dali sem que haja uma punição.

Isso acontece porque também o espaço conserva sua memória, aprisionando seus filhos eternamente nas mesmas posições da escala social: Você ficaria sempre com a marca do cais e ia acabar mesmo era amigada com um deles, Mundoca. Diante da inconstância do meio de vida do cais, o lugar de origem torna-se sinônimo de conhecimento e segurança, a única coisa realmente concreta na vida dessas pessoas: esperava sentada no cais, com a paciência e a certeza de tantos anos. Certeza de que só o cais existia realmente. E as coisas lhe aconteciam a partir dali e só tinham significação se começassem no cais.

Beira Rio Beira Vida é resultado de uma percepção muito particular da miséria e da prostituição. Uma vez que todo o romance é construído pelas lembranças de Luíza, parece coerente fazer uma análise do texto a partir dos fatos mais marcantes da sua narração, significativos não somente na vida da personagem, mas na fundamentação da denúncia social contemplada por suas lembranças, escolhidas de forma a ressaltar a situação de miséria em que ela se encontra, assim como os legitimadores dessa miséria (o que ela algumas vezes chama de sina, mas que em outras ocasiões ela identifica como a ação de pessoas de um meio social mais elevado). Essas lembranças fundamentam a realidade injusta denunciada através do romance.

Partindo desses episódios, também se identificam outros, pertencentes ao cotidiano da cidade, que oferecem informações importantes para a compreensão do contexto social em que ela está inserida. Dessa forma, evidencia-se com maior clareza a trajetória de Luíza e a formação da sua visão de mundo. Consideram-se, então, três momentos fundamentais das suas memórias.

O primeiro deles descreve o nascimento da sina do cais, ou seja, a maldição que teria dado origem ao meio de vida das prostitutas de Parnaíba. O caso, contado a Luíza por Cremilda, diz que um dia, a mais bela e bem sucedida prostitua do cais se envolveu com um rapaz de família abastada e conhecida.

Apaixonado, ele anunciou o casamento para a família e, depois de ser perseguido pela cidade e deserdado, acabou assassinado por um marinheiro “amigado” com a tal mulher do cais. Acusada de participação no crime, ela foi para a cadeia e, mais tarde, descobriu-se que estava grávida. Passava as noites a perturbar a cidade com seus gritos de revolta, levando as damas da sociedade de Parnaíba a defenderem sua internação na Santa Casa até o nascimento da criança. Porém, o padre não aconselhou a transferência, alegando apenas que seria um “mau exemplo”. Motivo de vergonha para toda a comunidade, ela permaneceu presa:

A mulher passou os nove meses de gravidez gritando e chorando de noite, para que toda a cidade ouvisse. E quando a filha nasceu ainda chorava e gritava, blasfemando. Passou a maldizer o futuro da menina, que ela era culpada, haveria de penar, penar e pegaria barriga de marinheiro, e teria uma filha que pegaria barriga de marinheiro, e a filha de sua filha pegaria barriga de marinheiro.

A sina do cais é, portanto, uma conseqüência da omissão da igreja, da língua ferina e preconceituosa da cidade e da transgressão de um jovem que ousou unir as duas pontas de uma sociedade desigual, provocando o surgimento de uma maldição que há anos condena as mulheres nascidas na beira do rio. Nesse contexto, existe um elemento fantástico para justificar um abuso real – a força das palavras, proferidas durante um sofrimento intenso, é tamanha que atravessa os anos a produzir novas vítimas.

O que Cremilda conta nada mais é que um mito, o relato de um acontecimento primordial que condicionou a existência das outras prostitutas a partir de então.

A explicação mitológica para a vida miserável que levam as prostitutas é a sina do cais; ela determina toda a realidade e faz com que essas mulheres creiam na incapacidade de escrever a própria história. Toda vez que uma delas engravida de um marinheiro, é como se repetisse um ritual que remonta àquela praga, o erro original. Suspende-se a passagem do tempo e por um instante, volta-se àquele momento inicial, no qual mais um destino é marcado para sempre. As vidas se repetem indefinidamente, condenadas a esse ciclo de infelicidade, mas compreende-se o porquê e se aceita o fado.

A sociedade retratada no romance se assemelha às arcaicas, nesse aspecto da busca por imagens mitológicas para justificar a realidade. A crença na reprodução eterna dos eventos e nos desígnios de uma entidade superior também é um indício dessa aproximação. Todavia, na comunidade piauiense não há uma renovação do tempo, no sentido de purificação dos pecados, ou uma reverência sagrada ao passado. Há apenas uma repetição de arquétipos, uma incapacidade de escrever histórias particulares gerada pela pobreza e injustiça do meio social em que se encontram.

É importante ressaltar que, apesar de acreditarem num destino já traçado, as personagens ainda esboçam uma certa reação contra a realidade indesejada. Porém, sabem de antemão que se trata de uma tentativa vã, principalmente se essa reação é intermediada pela figura masculina. É o que acontece com Cremilda, na ocasião da perda de seu armazém, o qual havia obtido através de um ‘casamento de interesses’. Depois de anos de trabalho e dedicação, só lhe resta resignar-se diante do fracasso: “A gargalhada da mãe, a sua ironia – ‘mas de que adiantou tamanho sacrifício se eu sei, sempre soube, que um dia ia perder tudo? Mas foi divertido – no começo foi ainda mais divertido, eu ganhava dinheiro, era uma mulher de negócio, cheguei até mesmo a esquecer quem era, quem um dia voltaria a ser’”.

A impossibilidade de vitória diante desse fado é a fonte de sentimentos de vingança e revolta. A sina é imposta pela reprodução sexual, transformando a maternidade num momento de conflito - enquanto a filha se ressente da falta de escolha, a mãe se vinga da gravidez indesejada sobre a própria cria, transmitindo o fardo pesado da vida do cais: Minha mãe nunca me perdoou. A vingança foi ver a minha vida repetindo a sua, toda noite, todo dia, até o fim. Ela teve culpa, mas, não sei porque, nunca se julgou culpada. Quem sabe o que não sofreu da própria mãe?. A prostituição se torna um veículo de expressão da revolta. O dinheiro e os presentes que recebem são uma maneira de retirar algo de uma sociedade que lhes nega uma vida mais digna. Para tanto, utilizam o próprio corpo: era um gosto esquisito de vingança, tinha que se vingar do mundo, ou mais particularmente deles, dos desgraçados. Estranho que fosse uma vingança na própria carne, na própria alma. Todavia, com a passagem dos anos e a chegada da velhice, a inutilidade dessas batalhas vai ficando cada vez mais evidente. Diante das forças invisíveis que manipulam o cotidiano e da convicção de que nada pode ser feito contra elas, surge uma aceitação que não é fruto da passividade, mas da desesperança: Quantas vezes não lhe contara aquelas revoltas que se foram aplacando, dando lugar àquela paciência de gente sem destino, sem sorte”.

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O SOM DESTA PAIXÃO ESGOTA A SEIVA
O som desta paixão esgota a seiva
Que ferve ao pé do torso; abole o gesto
De amor que suscitava torre e gruta,
Espada e chaga à luz do olhar blasfemo;
O som desta paixão expulsa a cor
Dos lábios da alegria e corta o passo
Ao gamo da aventura que fugia;
O som desta paixão desmente o verbo
Mais santo e mais preciso e enxuga a lágrima
Ao rosto suicida, anula o riso;
O som desta paixão detém o sol,
O som desta paixão apaga a lua.
O som desta paixão acende o fogo
Eterno que roubei, que te ilumina
A face zombeteira e me arruína. 

M.Faustino

SONETO
Necessito de um ser, um ser humano
Que me envolva de ser
Contra o não ser universal, arcano
Impossível de ler
À luz da lua que ressarce o dano
Cruel de adormecer
A sós, à noite, ao pé do desumano
Desejo de morrer.
Necessito de um ser, de seu abraço
Escuro e palpitante
Necessito de um ser dormente e lasso
Contra meu ser arfante:
Necessito de um ser sendo ao meu lado
Um ser profundo e aberto, um ser amado.
M.Faustino

Mário Faustino
Amante da morte
 “Sinto hoje, no coração, um vago tremor de estrelas” (Lorca)
       Vida, amor e morte são temas capitais da poesia de Mário Faustino. Entrelaçados, esses elementos sustentam o seu timbre poderoso, erudito. A morte em Mário não é apenas um pretexto de escrita, uma vacilação. É anseio, pressentimento. A sua morte trágica em 27 de novembro de 1962, na explosão de um Boeing da Varig, confirmou a previsão de uma frenóloga de Nova York. Morreu aos 32 anos de morte anunciada e pressentida. Toda a sua obra é marcada de presságios, envolta numa aura dramática, tensa, onde a morte paira seu silêncio e vulto.
       O poema Romance é exemplar dessa premonição. A respeito desta peça literária, a professora Albeniza Chaves, da Universidade Federal do Pará, se pronunciou: “O poeta experimentará situações místicas, pressentirá a proximidade do seu fim, sentirá, novo Cristo, o abandono e a traição, o peso e a ingratidão do mundo, fará, enfim, a sua via crucis sem conseguir resolver o enigma Vida-Morte, diante do qual seu sentimento é o trágico e o amor fati – aceitação heróica do destino”. Albeniza prossegue em sua análise: “Esse amor fati, ainda expressão de erotismo universal de Mário Faustino, tem algo de tragicidade inerente à atitude desafiadora do homem que procura uma estranha fé na Vida que a Morte revigora. É a confiança do ser desnudo, a fé na existência pela existência, que chega até mesmo a transformar a morte num acontecimento festivo, amado, esperado, como proclama a canção Romance: “Não morri de mala sorte/morri de amor pela morte”.
       Poeta construtor, artífice, a mão suando cada verso, a palavra precisa em cada gesto, Mário – que também era jornalista – sabia das torturas que o poeta submete o vate desamparado. De nada adianta recorrer às musas simplesmente; é preciso pulsar a obra, concebê-la como universo a lapidar, suor, trabalho. Escrever – e escrever bem – é uma tarefa difícil, mas o poeta se atirou a essa penosa empreitada. Buscou em Eliot, em Pound, nos poetas da Antigüidade, as pilastras para a consumação de uma obra em vertiginosa ascensão.
       Durante os anos em que editou a página Poesia Experiência, no Jornal do Brasil, mostrou sua verve crítica, a capacidade de reconhecer o verso preciso, a poesia fundamental em contemporâneos e avoengos. Comentava com precisão a metáfora ímpar e demolia sem titubear o texto empavonado e incompetente. Exigia dos autores o compromisso com a palavra, com a evolução da poesia. Exigia-lhes conhecimento do terreno, capacidade de superação.
       Seu único livro publicado, O Homem e sua Hora, foi suficiente para dar a conhecer a sua voz poderosa. Poesia de tom nunca decadente, a de Mário. Em seu texto jamais o desleixo, a irresponsabilidade que conduz ao verso mal acabado à barbárie do poema sem convicção e sem unidade. Nesta edição, há bons exemplos de sua escritura. A palavra como ética, como expressão e como estética.
       Mário nasceu no Piauí e aos nove anos mudou-se para Belém. O episódio da vidente de Nova York é significativo. Mário não levou a sério as previsões da astróloga e frenóloga  sobre as péssimas conjunções do período. Riu-se o poeta, mas na hora de viajar adiou o quanto pôde, afinal a vidente havia conseguido revelar, sem erro, detalhes do passado de Faustino. Quando não era mais possível adiar, ganhou coragem e partiu. Antes, cheio de desconfiança, deixou com a mãe adotiva (sua cunhada) instruções de como proceder caso a fatalidade... ah, a fatalidade...
       Os que falaram com Mário antes da viagem revelaram-no tranqüilo. Tranqüilo, voou nas asas da morte. Partiu, deixando um vácuo na vida literária brasileira. Sim, porque não são poucos os que afirmam que a página Poesia Experiência até hoje não encontra par pela contribuição que promoveu do fazer poético, pela crítica contundente e pelo debate teórico profundo e refinado.
       Mário Faustino era bem o crítico arguto, exigente, implacável, que não poupava nomes da envergadura de Drummond e João Cabral de Mello Neto, sem falar em Vinicius de Moraes. Do poeta de Claro Enigma, afirmou convicto e quase cruel que nunca seria um Pound, um Elliot, pois faltava-lhe “participação”, deixar de agir poeticamente só pelos poemas que publicava e discutir a sério a poesia. Outra: “Cala-se. Não manifesta grande interesse pelo progresso da poesia”, cobrou a certa altura do competentíssimo Drummond.
       Mas sua fina percepção sabia reconhecer as virtudes de cada um. Jorge de Lima ainda não havia sido suficientemente apreciado, e Faustino lhe teceu fervorosos elogios, dizendo-o um “finado mais vivo que todos os que sobreviveram”, apesar de, segundo ele, não ter incendiado, em suas revoluções, muitos dos templos em que deveria ter ateado fogo. “Libertou-nos de muita sintaxe, de muitos cacoetes – materiais e formais – porém estimulou outros. É muita coisa, mas não basta”, sentenciou.
       À frente da Poesia Experiência,Mário incendiou o panorama literário brasileiro entre setembro de 1953 e novembro de 1958. Com o lema “Repetir para aprender, criar para renovar”, foi o primeiro a apoiar o Concretismo. Crítico seguro, um dos mais conscientes de sua geração, pôs por terra a fama de muitos autores erroneamente endeusados e cobrou avanços de outros tantos, ao mesmo tempo em que recuperou de nomes de valor que estavam soterrados, e revelou outros.
       Porém não atravessou em mar tranqüilo a dissecação que operou sobre o corpo estirado da poesia brasileira. Sofreu – como não poderia deixar de acontecer a um polemista – ataques à sua forma de proceder a revisão dos autores do passado e de sua época.
       Com o escritor Haroldo Maranhão e o ensaísta Benedito Nunes (um ícone da teoria literária da atualidade e um dos principais críticos de Faustino), o poeta fundou a revista Encontro,que não passou do primeiro número. Mário e Nunes fizeram a revista em Belém e a enviaram para Haroldo Maranhão, no Rio de Janeiro. Fiel ao seu estilo cáustico, Maranhão não hesitou a folhear o material: “Está uma m...!”. Acabou-se assim Encontro, mas os amigos permaneceram juntos, discutindo e trabalhando no suplemento literário do jornal “Folha do Norte”, do Pará.
       Mário viajou para os Estados Unidos, a fim de estudar no Pomona College, com bolsa do Rotary International. Um ano depois voltou a Belém, onde trabalhou na extinta Spvea (atualmente Sudam). A trabalho, viajou para o Rio de Janeiro, onde o cargo de professor-assistente na Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas. Depois, foi para o Jornal do Brasil, onde estreou com Poesia-Experiência e depois assumiu a Editoria de Política. Viajava para Cuba como correspondente na área quando o avião chocou-se com o Cerro de La Cruz, próximo a Lima. Junto com ele foram-se os originais de um novo livro, sem título, e que o poeta paraense Ruy Barata – um dos raros a lê-los – disse que já se distanciavam dos de O Homem e sua Hora e que eram brilhantes. A pedra dura, a mão rochosa do destino despetalou a não rosa. E Mário, obcecado pela palavra, foi-se para sempre, com seu poema alado.
       Para saber mais: Há dez anos a editora Max Limonad lançou “Poesia Completa e Traduzida”, de Mário Faustino. Introdução, organização e notas de Benedito Nunes. O livro traz poemas, fotografias do poeta, traduções e fragmentos de um poema que não chegou a concluir.
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Uma leitura psicanalítica de Rio Subterrâneo, de O. G. Rego de Carvalho

Tanto estardalhaço na elaboração dos textos em prosa nunca se havia percebido na literatura piauiense quanto no momento da chegada do livro Rio Subterrâneo, de O. G. Rego de Carvalho, em 1967. Sua estrutura aparentemente caótica termina por seguir uma linhagem de autores como Mário e Oswald de Andrade, em seus primeiros trabalhos de reconhecido apelo plástico e psicanalítico. Quadros arquetípicos que se engendram desde a infância até o controverso fim da adolescência servem de apoio à narrativa ogerreguiana, entrecortada de pequenas fobias, descobertas e resgates fundamentais para o prosseguimento da aventura rumo ao autoconhecimento.
Dessa forma, vai ganhando corpo a narrativa de Lucínio, na obra Rio Subterrâneo. Imperiosa, a voz do psiquismo desse personagem remete o leitor a um universo de símbolos e espasmos que são desencravados da memória de um jovem que se arvora a cruzar a linha imaginária que separa sanidade e loucura: o rio Parnaíba, para Lucínio, o insone.
Àqueles anos da década de 60, o país se contorcia com as cólicas decorrentes do regime militar, mas a prosa de Ogê parece correr literalmente às margens do rio de sangue que passava subterrâneo, oriundo das salas de tortura onde estudantes da mesma idade de Lucínio – personagem central do livro – agonizavam para manter em segredo informações que muitas vezes nem possuíam. Lucínio não sofria por ter consciência política, como os muitos estudantes revolucionários de sua geração. Seu “mal” era outro: a pantofobia.
Não é que fosse covarde, afinal de contas ele não tinha arroubos de herói épico, redentor de uma geração, mas, incapaz de se refazer das conseqüências de seus traumas, ele acabou enveredando pelo solitário caminho das perquirições da existência. Vivendo intensamente os últimos instantes que anteciparam a chegada de sua prima Helena a Timon, Lucínio repassou a vida inteira, remoendo os muitos momentos ruins e os poucos bons, tendo como cenário um céu nublado, as águas turvas do Parnaíba, a ponte, Timon e Teresina. Eis o background de um universo psicanalítico inteiro por se desvendar.
O céu nublado, com chuvas que se precipitam para demarcar o mundo cinza de tristezas, desventuras e medos de Lucínio; as águas turvas que amedrontam, principalmente quando aparecem no mundo onírico, pressagiando maus momentos; a ponte, indicando a passagem de um lugar a outro. O lugar, em primeira instância, pode ser tomado como o espaço geográfico, Timon ou Teresina; depois, como símbolo psíquico, designando a idéia ou o ponto de fuga para onde acorria o personagem em seus momentos de devaneio.
Esses são alguns dos itens que podem ser desvelados na leitura do texto de Ogê, mas existem outros. Muitos mais. O espelho, por exemplo, que foi objeto de estudo para Jacques Lacan, proporciona uma larga discussão em torno dos elementos que se encontram obliterados na mente das pessoas: remete ao encontro do “eu” consigo e com a imagem materna. Lacan observou a relação da criança que via sua imagem refletida no espelho, extraiu suas inferências. No capítulo O rosto na vidraça, não conseguindo dormir, Lucínio começou a evocar a figura do amigo Benoni, que se suicidara para provar a existência de Deus. Pela manhã, Lucínio ficou sabendo que José tinha o hábito de sair durante a noite para velar o sono do filho pela janela.
Novamente o universo psicanalítico: janela, criança (filho de José), sono, noite. Elementos que se enquadram no universo psicótico de Lucínio. Por ordem: janela – fração de quadro inteiro da realidade; criança – o reflexo (paterno) projetado na condição do observador (José); sono – descanso necessário do homem; noite – fase do dia marcada pelos enigmas que circundam a humanidade desde que se anda para frente.
Lucínio é o indivíduo que se arvora ao ensimesmamento e às conseqüências que vêm com o mergulho no próprio interior. Ele é o personagem-problema contemporâneo, sobre quem não pode recair a pecha da alienação ou do descaso político com sua geração, que amargava dias difíceis em salas de tortura e antevia os anos de repressão política da década de 70. A sua trajetória de tortura já estava definida: conviver com os fantasmas da juventude; ter consciência plena de seus antecedentes; amar os labirintos do rio Parnaíba, as curvas de amores difíceis e os desejos recônditos de conhecer um mundo provinciano e particular, particular demais, intimista mesmo, psicótico.
Por ser uma prosa intimista e revolucionária, a abordagem de Rio subterrâneo proporciona um sem-número de leituras que vão desde a elaboração de quadros arquetípicos Jungianos, passando pelo universo simbólico de Jacques Lacan até as perseguições analíticas de Freud. Tudo isso numa prosa psicológica que obedece às leis criteriosas do rio que habita em todos. O rio caudal, misterioso, subterrâneo da mente humana, que ainda tem tanto a ser estudado, revela-se um filão para quem se interessar em conhecer um pouco mais os mecanismos envolvidos no universo do homem autoconhecendo-se.

Derly Honório
Professor de Língua Portuguesa do curso de Comunicação Social - Jornalismo, da IERSA