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segunda-feira, 5 de julho de 2010



PAULO JOSÉ CUNHA

É poeta, jornalista, professor e documentarista piauiense que nasceu no Rio de Janeiro e vive em Brasília. Publicou em 1984 seu primeiro livro de poemas, Salto sem Trapézio (Senado Federal, Coleção Lima Barreto, Vol. 5, Brasília) e 25 anos depois lançou o segundo, Perfume de Resedá, uma coleção de memórias prefaciadas pelo poeta H. Dobal, sob o selo da editora Oficina da Palavra, de Teresina. Participou das antologias Poesia de Brasília (org. Joanyr de Oliveira) e Mais Uns – Coletivo de Poetas (coord. Menezes y Moraes).

Publicou também dois livros de arte sobre a festa dos bois-bumbás de Parintins, Vermelho – Um Pessoal Garantido e Caprichoso – A Terra do Azul, além dequatro grandes edições de Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês. Em 1978, lançou A Noite das Reformas, um livro-reportagemsobre os bastidores da votação da emenda que extinguiu o AI-5. Como jornalista trabalhou nas sucursais da TV Globo e de O Globo, Rádio Nacional e Jornal do Brasil, em Brasília. Atualmente é âncora de três programas na TV Câmara e leciona na Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília.

Primo do tropicalista Torquato Neto, PJC recebeu do poeta H. Dobal o seguinte comentário pelos poemas de O Salto Sem Trapézio: “O jornalismo e a juventude lhe deram a possibilidade de usar temas e linguagem atuais, sem o perigo de cair no vulgarismo e no artificialismo dos modismos passageiros. E quanto a isto, sua poesia tem um aspecto único”.

Sobre Perfume de Resedá, H. Dobal, que faleceu em maio deste 2009, deixou registrado: “Uma das funções da poesia é desencantar lembranças, sujeita, no entanto, ao risco de tornar-se apenas uma prosaica enumeração. PJC cumpre esta função, evitando este risco. O seu mundo poético surge da poesia intrínseca das lembranças, realçada pelo poder que as palavras adquirem no contexto.” 
Página preparada por Angélica Torres Lima.


O CASO DOS DOIS BEIJOS
 
No tapete ao lado da cama,
hoje pela manhã,
encontrei dois beijos vadios
que se desprenderam à noite
de teus cabelos
e caíram no chão. 
Um deles (o mais tímido)
machucou-se um pouco na queda,
chora e só fala em voltar pra casa.
Já o outro, de uma família de saltimbancos,
em troca de dois vinténs
tomou o lugar de um dos meus. 
Agora, teu beijo saltimbanco anda comigo.
Faz piruetas dentro do bolso da calça,
e diz que nunca mais voltará pra casa. 
Enquanto isso o meu beijo, um andarilho,
fugiu e agora anda contigo.
Tem feito longas caminhadas pelo teu rosto,
se enrosca em teus cabelos,
escorrega pelo teu corpo,
pendura-se no bico de um seio,
vez por outra se esborracha no chão,
e, com um sorriso safado,
abre os bracinhos
e diz umas piadas sujas
que te fazem rir,
            encabulada...  


A ATRAÇÃO DO ABISMO

Súbito, o silêncio.
O ruflar das asas do condor sobre os quintais,
e o som de sua voz absoluta: 

- Já sabes a hora?
   E o dia, já sabes o dia?,
   ou vais deixar que o acaso te encontre
   fiando a tua covardia?

ENQUANTO SEU LOBO NÃO VEM
 
Sigamos juntos, vamos de mãos dadas
Que apesar das noites, restam as madrugadas.
Sigamos de mãos dadas, vamos
Para algum lugar, longe daqui, sigamos.

Pois mesmo que o caminho seja escuro,
os muros sejam altos, e as arestas, afiadas
alguma luz se infiltrará nas frestas
e algo muito puro, que não sei o nome,
circulará por entre as mãos entrelaçadas

Vamos pela noite sem deixar pegadas
que a morte é certa; a vida, curta; e o mundo, enorme.
Me dá tua mão, sigamos juntos, vamos
que a rua está deserta e o monstro dorme.



fonte; http://www.antoniomiranda.com.br, mais nesse site.

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