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sábado, 14 de agosto de 2010

Em um artigo publicado no livro Cidade/História e Memória, Teresina - 150 anos, intitulado "Em busca de uma cidade perdida", o historiador Francisco Alcides do Nascimento ressalta a frustração de pessoas que,
ao retornar a Teresina, depois de alguns anos de ausência, não mais reconhecem a cidade de sua infância, de sua juventude. Para ilustrar, ele cita a reação do poeta Ribamar Ramos, depois de longa temporada fora de Teresina - onde passou sua juventude -, resolvido a não mais voltar à cidade.

"O seu interlocutor teria perguntado a razão dessa decisão. A resposta foi imediata: 'a Teresina do meu tempo já não existe mais. Demoliram o Café Avenida, o Bar Carvalho e seu cozinheiro espanhol não fazem
mais parte da paisagem da praça Rio Branco'. A cidade do "tempo do poeta" é colocada em oposição à cidade visitada. Esta lhe é desconhecida e ele sente um certo estranhamento. A cidade latente em sua memória é narrada e ganha um novo suporte, a história", diz o texto de Alcides do Nascimento.

Continuando, o historiador assinala que "a cidade de Ramos resulta do exercício de lembrar que no lugar de um estacionamento existia o Café Avenida, local onde a elite intelectual, até o início da década de 1940, se juntava para discutir os últimos acontecimentos da cidade, do país e do mundo". Em outro parágrafo,
Alcides do Nascimento diz que "a realidade de Teresina demonstra que nem sempre os edifícios construídos servem de referência durante toda a nossa vida. Aliás, esse parece ser um problema relacionado com o Brasil inteiro, a sedução pelo novo tem nos deixado sem algumas referências".

Porém, o personagem citado por Alcides do Nascimento é um entre milhares que, ao retornar a Teresina, depois de certa ausência, se depara com estacionamentos em lugar de prédios que contavam um pouco da
vida da cidade; construções que ajudavam na busca do passado, uma referência que agora aparece apenas na lembrança ou numa  velha fotografia esquecida em alguma gaveta; mais uma peça de museu. Infelizmente essa descaracterização tem sido uma rotina na cidade: o novo sufocando, apagando a memória, ajudando no surgimento de uma nova cidade sem passado, como se tivesse surgido por encanto, desconhecida de seus filhos de antigas gerações.

Para o historiador Jussival Sousa, de algumas décadas para cá, Teresina vem se descaracterizando com a derrubada de prédios antigos que dão lugar a estacionamentos ou a construções modernas. Ele adverte que, dentro de pouco tempo, se não for tomada uma decisão séria dos órgãos competentes, a história
de Teresina irá se resumir a documentos e peças de museus. "Se ao menos conservassem a fachada,
ainda poderíamos mostrar às novas gerações a história do crescimento da cidade, mas muitos prédios estão sendo demolidos por inteiro", assinala.

Citando como exemplo recente a derrubada de uma antiga casa localizada no cruzamento das Ruas Davi Caldas e Areolino de Abreu, o historiador ressalta o que fizeram com Avenida Frei Serafim: "Muitos casarões e sobrados da Frei Serafim foram derrubados, para que fossem erguidos prédios de arquitetura moderna - resultando no desaparecimento de um belo conjunto arquitetônico que contava a história da Teresina das primeiras décadas do século XX", observa.

"O referencial de saber o passado é a memória, que pode estar nos documentos, na oralidade e nas edificações", argumenta, acrescentando que não é contra a modernização da cidade, mas que esse processo seja desenvolvido de forma responsável: "O que não está certo é a chegada dessa modernidade como um tsunami, varrendo a memória da cidade - o que é lamentável", assinala.

"Quando se fala em modernidade se ressalta muito a preservação do meio ambiente, mas porque não poderiam estar no mesmo patamar de importância essa modernidade, o meio ambiente e a nossa
memória?", indaga.

Jussival deixa claro que não é contrário às transformações que os tempos modernos impõem à Teresina, desde que se tenha respeito pelo passado. "O que vamos deixar para as futuras gerações? Só fotos? Só histórias a serem contadas? Parafraseando o mestre Alcides Filho, 'a cidade que hoje vivo não é mais a cidade que eu conheci; a cidade que me apaixonei'", concluiu.
fonte:http://www.sistemaodia.com










 

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